O complemento pode ser qualquer coisa. Sério: qualquer coisa. No Brasil, toda e qualquer circunstância normalmente contrária ao esquerdismo não retira de pronto a “esquerdência” da pessoa. Desde que, claro, sejam meios para chegar-se a um fim e esse fim signifique alguma vitória do PT.
Sim, sabemos que é isso.
O militante, desse modo, pode muito bem ser de esquerda e apoiar o Sarney, pois seria um ônus regional necessário para combater nacionalmente a política neoliberal. Também pode coligar-se a Maluf pela necessidade do combate das forças do mercado em São Paulo.
Na época em que todos assumiam o Mensalão (até mesmo Lula, que pediu desculpas em rede nacional), a prática poderia ser condenável, mas era “comum” e significava uma maneira de garantir a aprovação de medidas inclusivas no Congresso. A base governista, composta de toda sorte de coronéis do país inteiro, também teria esse objetivo.
É normal militante partidário dar desculpas. Mas é risível quando alguns o fazem não apenas para tirar sua legenda da reta, mas também para garantir a preservação de ideologias declaradas; uma versão ideológica, portanto, daquela história da mulher-de-césar.
Não basta declarar-se de esquerda, é preciso “parecer” esquerdista, ainda que para isso surjam argumentos tão ruins que fariam Trostky dar ele próprio a picaretada no cocuruto, de tanto desgosto.
Cabe refletir sobre a aparente NECESSIDADE dessa contínua afirmação. Até porque quase todo “esquerdista declarado” não dispensa uma entrada VIP onde quer que seja, gosta quando escapa de filas por conta das amizades, não liga se o patrão deixa de recolher verbas trabalhistas ou impostos, e assim por diante. Afinal, é possível fazer/aceitar tudo isso sem deixar de ser esquerdista.
Só não fale mal do PT, daí você é reaça.
E vale até mesmo para o PSOL, PSTU e quejandos. Em geral, petistas dizem que são “a esquerda de que a direita gosta”. Se grupo de ecologistas briga com o atual governo federal, ganham a pecha de “marionetes” de adversários.
O esquerdista brasileiro não está nem aí com causa alguma: é basicamente militante/simpatizante/defensor ou apenas empregado de um partido, e vocês sabem qual. Há casos – e todos os conhecemos – de quem abre mão até de bandeiras às quais se liga de forma íntima (geralmente de gênero, sexuais ou étnicas) na hipótese de prejudicar o partidão.
Disso tudo, surge a teratologia filosófica segundo a qual, no Brasil, os reacionários são os que pretendem mudar o status quo, enquanto a militância que luta pela manutenção das coisas representa interesses esquerdistas de, vá lá, revolução.
Sugestão: continuem fazendo tudo que já fazem, mesmo, sem precisar fazer malabarismos retórico-ideológicos. Sim, é legal não pegar fila; é bacana ganhar um VIP, é gostoso consumir, comprar, aproveitar benesses materiais. Superem, aceitem; essa “fase da negação” já dura quase trinta anos – e oito deles NO PODER. É ridículo.
Vocês saíram do DCE há anos, façam uma forcinha para conseguir tirar DCE de vocês. É um começo.
Gravataí Merengue
30 de julho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário