Quarenta anos e oito anos separam de 1964, não propriamente o ano em que o Brasil se dividiu, porque dividido já estava, mas o ano da ruptura explícita do país em duas metades. O diabo é que duas metades artificiais, falsas, levadas ao confronto desnecessário por força das circunstâncias e, mais do que delas, por maliciosa manobra das elites econômico-financeiras nacionais e internacionais.
Porque até hoje vende-se a impressão de que a partir de 1964 o Brasil rachou entre civis e militares, estes usurpando o poder e impondo a ditadura, aqueles vilipendiados, afastados de cena e condenados, primeiro, ao marasmo, depois à discordância, e, desta à resistência e à vitória, 21 anos depois, com o afastamento das Forças Armadas da cena política.
Na verdade, não foi nada disso, ou isso expressou apenas a casca enganadora de um conteúdo muito diferente.
Porque tanto a sociedade civil quanto a militar tinham e tem a mesma origem e o mesmo destino. Formam uma só unidade. Pensam igual e possuem objetivos idênticos. No caso, a preservação da nação, de nossa soberania e de nosso território.
A presença do Estado como agente regulador das relações econômicas e sociais, fator maior da distribuição da igualdade entre a população. Mais ainda, a construção de uma realidade mais equânime e projetada para o futuro. A distribuição da riqueza nacional em termos solidários.
Era isso o que pretendiam os civis depostos pelos militares, como foi isso o que perseguiram os militares que depuseram os civis.
Fala-se do povo. Porque foram as elites as responsáveis pela ilusória e trágica divisão cultivada até hoje, inflada pela truculência com que os militares se comportaram, tanto quanto pela irresponsabilidade anterior ou a reação posterior, muitas vezes desmedida, com que certas parcelas do poder civil reagiram. O que menos importa, hoje, é saber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha.
Na verdade, era e é outra, a verdadeira divisão que as referidas elites buscaram e buscam ocultar. Utilizaram os militares, quarenta anos atrás, como as mãos do gato, para tirar as castanhas do fogo. Hoje, utilizam a sociedade civil, que rotulam de libertária, para obter os mesmos fins. Quais?
A satisfação de seus interesses, a preservação de seus privilégios e a concentração de renda cada vez maior, em suas mãos. A prevalência de uma casta de ricos cada vez mais ricos e de uma massa sempre maior de descartáveis premidos pela indigência, o desemprego, a fome e a miséria. Civis e militares.
Por ironia, foram os militares que, no poder, ainda conseguiram preservar as linhas mestras de nossa existência como nação. Como foram os civis que, ultrapassando a ditadura, viram-se enganados e ludibriados, obrigados a aceitar o modelo cruel que nos assola cada vez mais, neoliberal, globalizante ou o que seja, responsável pela nossa débâcle como sociedade independente e organizada.
Tremerão as elites no dia em que o Brasil conseguir quebrar a casca desse confronto anterior, real e justificável pela argumentação dos dois lados. Estará desfeito o muro que nos separa, artificialmente mantido como forma de alimentar a ambição e os privilégios das minorias responsáveis pelo aumento da indigência, do desemprego, da fome e da miséria.
Eleito pela indignação diante de tamanha farsa, assim como o governo Lula, também o governo Dilma Rousseff encontra-se iludido por essas mesmas elites, responsáveis pela preservação do modelo que há anos nos assola, feito de falsas verdades absolutas como a de que não poderia ser diferente, já que a inflação alcançaria patamares insustentáveis, o dólar chegaria à estratosfera, o risco-Brasil nos sufocaria e os investimentos externos desapareceriam – levando-nos à desagregação.
É mentira. A desagregação está aí mesmo, expressa no objetivo oculto que nos vem sendo imposto.
A quebra da soberania, a alienação do patrimônio público, a transformação do trabalhador em apêndice desimportante do processo econômico, a perda sistemática do poder aquisitivo dos salários, a supressão dos direitos sociais, a prevalência do setor especulativo sobre o setor produtivo, a avidez do capital-motel que chega de tarde, passa a noite a vai embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco mais nossa economia, a transformação do Brasil em mero exportador de riqueza, mais do que necessária ao nosso desenvolvimento, a submissão aos ucasses internacionais – tudo isso e muito mais continuam alimentados pelos esqueletos do passado.
Mudará tudo no dia em que civis e militares se conscientizarem de estar sendo enganados e vilipendiados pela quadrilha neoliberal e dita globalizante, mesmo ao preço da cicatrização de feridas anteriores.
Haverá que encerrar estas desimportantes considerações sobre a eclosão do movimento militar. Provavelmente surgirão condenações dos dois lados. Dos militares, julgando-se ofendidos pelo reconhecimento dos excessos que seus antecessores praticaram. Dos civis, que sofreram e sentem-se no direito de cobrar reparações até o fim dos tempos. Paciência, o passado não se deu ao trabalho de passar para ser esquecido.
Não nos dirá o que fazer, mas precisamente o contrário. Sempre mostra, o passado, aquilo que devemos evitar. Coisa que até agora não conseguimos, por força de quantos pretendem impedir o futuro. (Final)
Porque até hoje vende-se a impressão de que a partir de 1964 o Brasil rachou entre civis e militares, estes usurpando o poder e impondo a ditadura, aqueles vilipendiados, afastados de cena e condenados, primeiro, ao marasmo, depois à discordância, e, desta à resistência e à vitória, 21 anos depois, com o afastamento das Forças Armadas da cena política.
Na verdade, não foi nada disso, ou isso expressou apenas a casca enganadora de um conteúdo muito diferente.
Porque tanto a sociedade civil quanto a militar tinham e tem a mesma origem e o mesmo destino. Formam uma só unidade. Pensam igual e possuem objetivos idênticos. No caso, a preservação da nação, de nossa soberania e de nosso território.
A presença do Estado como agente regulador das relações econômicas e sociais, fator maior da distribuição da igualdade entre a população. Mais ainda, a construção de uma realidade mais equânime e projetada para o futuro. A distribuição da riqueza nacional em termos solidários.
Era isso o que pretendiam os civis depostos pelos militares, como foi isso o que perseguiram os militares que depuseram os civis.
Fala-se do povo. Porque foram as elites as responsáveis pela ilusória e trágica divisão cultivada até hoje, inflada pela truculência com que os militares se comportaram, tanto quanto pela irresponsabilidade anterior ou a reação posterior, muitas vezes desmedida, com que certas parcelas do poder civil reagiram. O que menos importa, hoje, é saber quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha.
Na verdade, era e é outra, a verdadeira divisão que as referidas elites buscaram e buscam ocultar. Utilizaram os militares, quarenta anos atrás, como as mãos do gato, para tirar as castanhas do fogo. Hoje, utilizam a sociedade civil, que rotulam de libertária, para obter os mesmos fins. Quais?
A satisfação de seus interesses, a preservação de seus privilégios e a concentração de renda cada vez maior, em suas mãos. A prevalência de uma casta de ricos cada vez mais ricos e de uma massa sempre maior de descartáveis premidos pela indigência, o desemprego, a fome e a miséria. Civis e militares.
Por ironia, foram os militares que, no poder, ainda conseguiram preservar as linhas mestras de nossa existência como nação. Como foram os civis que, ultrapassando a ditadura, viram-se enganados e ludibriados, obrigados a aceitar o modelo cruel que nos assola cada vez mais, neoliberal, globalizante ou o que seja, responsável pela nossa débâcle como sociedade independente e organizada.
Tremerão as elites no dia em que o Brasil conseguir quebrar a casca desse confronto anterior, real e justificável pela argumentação dos dois lados. Estará desfeito o muro que nos separa, artificialmente mantido como forma de alimentar a ambição e os privilégios das minorias responsáveis pelo aumento da indigência, do desemprego, da fome e da miséria.
Eleito pela indignação diante de tamanha farsa, assim como o governo Lula, também o governo Dilma Rousseff encontra-se iludido por essas mesmas elites, responsáveis pela preservação do modelo que há anos nos assola, feito de falsas verdades absolutas como a de que não poderia ser diferente, já que a inflação alcançaria patamares insustentáveis, o dólar chegaria à estratosfera, o risco-Brasil nos sufocaria e os investimentos externos desapareceriam – levando-nos à desagregação.
É mentira. A desagregação está aí mesmo, expressa no objetivo oculto que nos vem sendo imposto.
A quebra da soberania, a alienação do patrimônio público, a transformação do trabalhador em apêndice desimportante do processo econômico, a perda sistemática do poder aquisitivo dos salários, a supressão dos direitos sociais, a prevalência do setor especulativo sobre o setor produtivo, a avidez do capital-motel que chega de tarde, passa a noite a vai embora de manhã, depois de haver estuprado um pouco mais nossa economia, a transformação do Brasil em mero exportador de riqueza, mais do que necessária ao nosso desenvolvimento, a submissão aos ucasses internacionais – tudo isso e muito mais continuam alimentados pelos esqueletos do passado.
Mudará tudo no dia em que civis e militares se conscientizarem de estar sendo enganados e vilipendiados pela quadrilha neoliberal e dita globalizante, mesmo ao preço da cicatrização de feridas anteriores.
Haverá que encerrar estas desimportantes considerações sobre a eclosão do movimento militar. Provavelmente surgirão condenações dos dois lados. Dos militares, julgando-se ofendidos pelo reconhecimento dos excessos que seus antecessores praticaram. Dos civis, que sofreram e sentem-se no direito de cobrar reparações até o fim dos tempos. Paciência, o passado não se deu ao trabalho de passar para ser esquecido.
Não nos dirá o que fazer, mas precisamente o contrário. Sempre mostra, o passado, aquilo que devemos evitar. Coisa que até agora não conseguimos, por força de quantos pretendem impedir o futuro. (Final)
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