GALINHA NOVA NO PORTO
Em Porto de Galinhas (PE) não havia senhores de engenho. Eram senhores das florestas, dos rios e dos mares, nas beiras desse infinito verde-azul, rodeado de arrecifes empedrados, uma das mais magníficas esquinas desses mundos de Deus.
Os índios Caetés, aqueles que comeram como sardinha o primeiro bispo do Brasil, aqui viviam e imperavam…
Até que chegaram os portugueses, matavam os índios e exportavam pau-brasil por esse porto natural, que logo chamaram de Porto Rico.
Os índios caetés reagiram, puseram os portugueses para correr e durante todo o século XVI não mais deixaram sair por aqui nem madeira nem açúcar.
Quando começou o comércio dos escravos trazidos da África, os brancos voltaram ao massacre dos índios e aqui instalaram um porto clandestino, pirata, que importava negros sem pagar taxas ao governo instalado em Olinda e Recife.
O governo até que tentou reagir, construindo o Forte da Gamaleira, aqui ao lado. Mas os navios negreiros chegavam, encostavam e desovavam milhares de negros. Nos porões, também traziam galinhas de Angola e com ela davam a senha:
- Tem galinha nova no porto!
As galinhas, na verdade, eram os negros para vender. E o porto logo se chamou, até hoje, Porto de Galinhas.
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ESCRAVO DO AMOR
Carlos Wagner, bom jornalista, bom publicitário, bom poeta, irmão do cinematográfico pintor de “Olga”, o escritor Fernando Moraes, era amante. Apaixonou-se, todo se deu. Um dia, o amor se foi e deixou um infinito vazio. Ficaram apenas as cartas magoando na gaveta.
Ia jogar fora, mas Belo Horizonte, onde morava, não merecia o enterro de sua ternura. Mudou-se para São Paulo. E as cartas doendo na mala. Quis rasgá-las, também lá. Desistiu. Não tinha sentido espalhar tanto sonho naquela frieza de cimento armado.
Pegou um avião, foi para Paris. Com as cartas. Chamou José Maria Rabelo e Tereza, seus amigos, exilados lá:
- Hoje, vamos dar um passeio no Sena. Quero que vocês dois sejam testemunhas e padrinhos de uma cerimônia.
Entrou no primeiro marché, comprou três Chateau Margaux. Até a francezinha do caixa ficou assustada com o preço. Pegaram um Bâteau Mouche, beberam tudo. Carlos Wagner estava desolado:
- Vim a Paris jogar no Sena as cartas de um amor maravilhoso que se acabou. Elas estão aqui na bolsa.
- Então, jogue.
- Não, não vou jogar não. Vejam como está o Sena. Muito poluído.
No dia seguinte, embarcou para Veneza. Continuava escravo de seu amor, como galinha nova no porto.
PAES DE ANDRADE
Em Porto de Galinhas (PE) não havia senhores de engenho. Eram senhores das florestas, dos rios e dos mares, nas beiras desse infinito verde-azul, rodeado de arrecifes empedrados, uma das mais magníficas esquinas desses mundos de Deus.
Os índios Caetés, aqueles que comeram como sardinha o primeiro bispo do Brasil, aqui viviam e imperavam…
Até que chegaram os portugueses, matavam os índios e exportavam pau-brasil por esse porto natural, que logo chamaram de Porto Rico.
Os índios caetés reagiram, puseram os portugueses para correr e durante todo o século XVI não mais deixaram sair por aqui nem madeira nem açúcar.
Quando começou o comércio dos escravos trazidos da África, os brancos voltaram ao massacre dos índios e aqui instalaram um porto clandestino, pirata, que importava negros sem pagar taxas ao governo instalado em Olinda e Recife.
O governo até que tentou reagir, construindo o Forte da Gamaleira, aqui ao lado. Mas os navios negreiros chegavam, encostavam e desovavam milhares de negros. Nos porões, também traziam galinhas de Angola e com ela davam a senha:
- Tem galinha nova no porto!
As galinhas, na verdade, eram os negros para vender. E o porto logo se chamou, até hoje, Porto de Galinhas.
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ESCRAVO DO AMOR
Carlos Wagner, bom jornalista, bom publicitário, bom poeta, irmão do cinematográfico pintor de “Olga”, o escritor Fernando Moraes, era amante. Apaixonou-se, todo se deu. Um dia, o amor se foi e deixou um infinito vazio. Ficaram apenas as cartas magoando na gaveta.
Ia jogar fora, mas Belo Horizonte, onde morava, não merecia o enterro de sua ternura. Mudou-se para São Paulo. E as cartas doendo na mala. Quis rasgá-las, também lá. Desistiu. Não tinha sentido espalhar tanto sonho naquela frieza de cimento armado.
Pegou um avião, foi para Paris. Com as cartas. Chamou José Maria Rabelo e Tereza, seus amigos, exilados lá:
- Hoje, vamos dar um passeio no Sena. Quero que vocês dois sejam testemunhas e padrinhos de uma cerimônia.
Entrou no primeiro marché, comprou três Chateau Margaux. Até a francezinha do caixa ficou assustada com o preço. Pegaram um Bâteau Mouche, beberam tudo. Carlos Wagner estava desolado:
- Vim a Paris jogar no Sena as cartas de um amor maravilhoso que se acabou. Elas estão aqui na bolsa.
- Então, jogue.
- Não, não vou jogar não. Vejam como está o Sena. Muito poluído.
No dia seguinte, embarcou para Veneza. Continuava escravo de seu amor, como galinha nova no porto.
PAES DE ANDRADE
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