Os atores do mensalão frequentam dois cenários
distintos em Brasília. Nos dias de sessão do Supremo Tribunal Federal, à tarde,
advogados e ministros guardam distância protocolar e, não raras vezes, os
bacharéis são tratados rispidamente. À noite, em festas pela capital, os doutos
se confraternizam.
"Foi uma festa absolutamente
democrática", disse ontem o advogado José Gerardo Grossi, de 80 anos,
ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, aniversariante da noite de
quarta-feira. Carismático, recebeu no tradicional Palace Brasília Hotel muitos
convidados. Estavam no mesmo ambiente protagonistas e coadjuvantes do mensalão
- acusação, defesa e julgador - como o ministro Marco Aurélio Mello e a mulher
do ex-ministro José Dirceu, Evanise Santos.
O próprio Dirceu, que está recluso enquanto
transcorre o julgamento, fez questão de ligar para o anfitrião e o felicitou.
"Ele (Dirceu) me ligou parabenizando, é outra pessoa de quem gosto
muito", disse Grossi.
A festa reuniu os notáveis da advocacia criminal,
ora defensores dos réus do esquema que abalou o governo Lula. Márcio Thomaz Bastos,
ex-ministro da Justiça e advogado do executivo José Roberto Salgado, do Banco
Rural, Arnaldo Malheiros Filho, que representa Delúbio Soares, Alberto
Zacharias Toron, defensor do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), Pierpaolo
Bottini, constituído pelo ex-deputado Professor Luizinho (PT-SP).
No mesmo ambiente, estavam o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, e seu antecessor, Antonio Fernando de Souza,
acusadores do mensalão. Assim como o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG), réu de
outro mensalão - o mineiro.
Num canto, faceiro, Marco Aurélio estava rodeado
pelos convivas e, com a língua afiada, de tudo falava. Indagado sobre o que
quis dizer com contraponto no julgamento, ele assim se manifestou:
"Pretendi restabelecer a harmonia na corte".
Aqui e ali, o tema das rodinhas era o julgamento.
"O comentário geral era a expectativa em relação à conclusão do voto do
relator", disse Marco Aurélio. "Houve uma inversão na apreciação da
conduta dos réus."
O anfitrião ficou
emocionado com o carinho recebido dos amigos. "A festa foi absolutamente
democrática. Veio o José Batista Sobrinho, do Friboi, maior abatedouro de carne
bovina do mundo, e a Maria José, que passa a nossa roupa há muitos anos",
disse Grossi.
24 de agosto de 2012
FAUSTO MACEDO, FELIPE
RECONDO e VERA ROSA
O Estado de S. Paulo (SP)
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