"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O PIZZAIOLO DE TOGA


Alguma coisa me diz que alguns recados, com força de causar estrago no julgamento do mensalão, estão sendo canalizados em direção a certos ministros não muito refratários – para não dizer simpáticos - às teses desenvolvidas pelos advogados dos réus, principalmente àqueles que se enquadram no campo político.
O que se está percebendo, à luz de conversas de alcova nas ceias de fim de noite, regadas a bons vinhos, em restaurantes estrelados de Brasília, que acórdãos estão sendo desenhados com duplo sentido: baixar o sarrafo nos bagrinhos cuja severidade das condenações servirá de pretexto para se fazer o contraponto de absolvições de gente graúda, que pode, num surto de ocasião e prevendo a possibilidade de pegar cadeia, abrir as comportas e botar a boca no trombone.
 

Vejam só: pode. As condenações e as absolvições e principalmente a dosemetria das penas obedecerão um script bem próprio do que desejam os mensaleiros: desqualificar os crimes mais pesados, decidir por penas leves – em troca de trabalho voluntário – e condenações para determinados crimes que já se encontram prescritos.
Nada mais justo que se enfeite o boi de piranha - aquele que levará a culpa por todos os outros – para ser levado, solenemente, ao altar dos devotos e ser emulado nas hostes petistas com a oração final do chefe da seita, que se mantém por cima da carne seca há dez anos, com prováveis mais dez pela frente. A voz está fraca, mas dá para descolar uma ave-maria ou um pai-nosso.
De início, dois nomes se enquadram para fazer o papel dos malzinhos: Pizzolato é um deles (do baixo clero petista), o outro será Delúbio Lexotam Soares (o tesoureiro da seita). Correndo por fora, são grandes as chances de Marcos Valério emplacar uma cana, desde, é claro, que o que ele anda resmungando pelos cantos não passe de um blefe. Caso contrário, se Valério resolver fazer o que tem insinuado a pessoas próximas, vai ser muita sujeira no ventilador e respingará em políticos e partidos, das mais diversas ideologias, de Minas Gerais a Brasília, com passagens por outros recantos desse Brasil varonil.
Ministros que foram recebidos por Lula e que lá estão na Casa dos Horrores por indicação familiares, envolvendo a primeira dama e uma mãe extremosa, não custa nada dar uma arejada na toga por aquelas bandas no conhecido campo político. Afinal, qual a melhor maneira de se retribuir um determinado favor a não ser com outro favor da mesma densidade e intensidade.
Mas existe um detalhe – aliás um pequeno detalhe: ainda temos homens e mulheres na Corte que se curvam somente à Constituição e ao devido processo legal, onde provas que existem as escâncaras para levar mensaleiros à prisão, serão traduzidas em números e em condenações pesadas, mesmo que os votos desses homens decentes e dessas mulheres corajosas venham a contrariar o dono da seita e macular o santuário dos aprendizes de monges de araque.
Pode até rolar uma pizza ou outra, mas enganam-se quem apostar que haverá um rodizío das quentinhas. Mesmo que possa existir – e existe –, afinal velhacos que são feitos para isso, uma manobra para desqualificar o trabalho da autoridade policial, diminuir a denúncia do Ministério Público e contestar sem argumentos sérios o voto do relator, mesmo assim a sociedade será a vencedora. Ficará provado que existe algo de podre no reino dos “impolutos” em compota.
24 de agosto de 2012
Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e articulista

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