Agora não há mais como negar: o dinheiro desviado dos cofres públicos pelo PT foi usado para comprar o voto de parlamentares no Congresso. Está comprovado o ponto central do mensalão. A chegada de Lula, José Dirceu e seu partido ao poder representou a montagem de um balcão de negócios nunca antes visto na história deste país.
O Supremo Tribunal Federal (STF) começou ontem a julgar a destinação dada aos recursos surrupiados pelos mensaleiros, conforme já provado nas etapas iniciais do julgamento. Para o ministro relator, ministro Joaquim Barbosa, não há a menor sombra de dúvida: "Os réus receberam dinheiro em razão da função parlamentar e em troca da fidelidade do partido ao governo".
Barbosa ateve-se, na 24ª sessão do julgamento, ao caso mais emblemático: o do PP. O partido, que em 2002 apoiara o candidato tucano José Serra, bandeou-se para o governo logo no primeiro ano do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. Foi, literalmente, comprado pelo petismo para assegurar-lhe votos e apoio parlamentar. O relator cruzou o mapa de votações com o de pagamentos na boca do caixa e viu: a dinheiro no bolso equivalia apoio no Congresso.
Tivessem um projeto de país e não um mero projeto de perpetuação de poder, Lula e sua quadrilha de petistas talvez não tivessem tido que lançar mão de seu espúrio método de, digamos, "convencimento". Mas o governo do balcão ancorou-se mesmo foi no milhão, ou, para ser mais preciso, nos milhões.
Nos autos, está comprovado que as transferências aos mensaleiros comprados somaram R$ 55 milhões. Mas o esquema criminoso envolveu muito mais. Há, ainda, os R$ 74 milhões desviados da Visanet/Banco do Brasil, mas há, também, a suspeita, levantada por Marcos Valério, de que pelos dutos da corrupção tenham vazado pelo menos R$ 350 milhões. (Nunca se deve esquecer o que disse Silvio Pereira, o petista que se livrou do processo após acordo com a Justiça: a meta era desviar R$ 1 bilhão.)
O PT sentiu o golpe desferido ontem pelo ministro relator. Bastou o Supremo chegar ao coração do mensalão para que o petismo mostrasse suas garras. A reação veio na forma de uma nota oficial de sua Executiva Nacional, que conclama os partidários de Lula, Dilma, José Dirceu e sua quadrilha de mensaleiros a "uma batalha do tamanho do Brasil". A dimensão da guerra deve ser proporcional ao assalto que o partido perpetrou aos cofres públicos...
Não deixa de ser, também, uma forma de os petistas reagirem aos sinais enviados por Marcos Valério neste fim de semana - seja pelas declarações dele publicadas pela revista Veja, seja pela revelação, feita por Ricardo Noblat ontem, de que o publicitário gravou quatro cópias de um vídeo em que desnuda o funcionamento do esquema mafioso comandado pelo PT.
Marcos Valério ameaçou contatar tudo, se, de fato, afundar sob o peso das penas que o relator está disposto a lhe impor - até 28 anos de cadeia, conforme parte do relatório que a assessoria do ministro Barbosa, descuidadamente, fez publicar no site do STF. O PT parece ter entendido que é melhor tentar amansar o bicho, antes que seja tarde. Por isso, convocou suas tropas e mostrou os dentes. Não vai adiantar.
As conclusões a que os ministros do STF estão chegando desnudam, com riqueza de detalhes, a concepção que o PT e seus quadrilheiros fazem do aparato estatal. Trata-se, na visão do partido dos mensaleiros, de um butim trilionário a ser roído até a medula, no intuito de promover, viabilizar e financiar a prevalência de seu grupo político no poder. A qualquer preço, a qualquer pena.
Mas o julgamento do mensalão está servindo para dar um basta a este estado de coisas. "O Brasil não é tão arcaico, desorganizado, institucionalmente desqualificado nem tão apinhado de vendidos como supunha o PT ao assumir a Presidência da República", analisa Dora Kramer, com a acuidade que lhe é habitual, n'O Estado de S.Paulo.
A esta altura, já restam comprovados pelo STF o desvio de verbas públicas, as fraudes bancárias para encobrir as falcatruas e a existência de uma lavanderia de dinheiro montada em conluio entre banqueiros e petistas. Desde ontem, também tornou-se notório que os dutos da corrupção serviram à compra de votos no Parlamento. Se corrupção houve, corruptores também houvera. Agora falta só mais um pouquinho para o julgamento chegar até eles: aqueles que estiveram atrás do imenso balcão de negociatas montado no país nestes últimos dez anos.
18 de setembro de 2012
Insituto Teotônio Vilela
18 de setembro de 2012
Insituto Teotônio Vilela
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