Na entrevista em Madri ao Jornal El Pais, a presidente Dilma Rousseff, indagada sobre o julgamento do mensalão, afirmou, como não podia deixar de ser as decisões do Supremo Tribunal federal, porém ninguém está acima dos erros e das paixões. Politicamente, com base evidentemente no julgamento de José Dirceu, seu antecessor na Casa Civil, procurou harmonizar a razão com a emoção.
Afinal, o ex-ministro Dirceu não foi julgado por acaso. E os fatos que o levaram à demissão pelo presidente Lula e ao julgamento final não ocorreram por acaso, tampouco são obra de ficção. Foram concretos. Uma das consequências as mais fortes foi exatamente sua substituição por ela, Dilma, ato que terminou a levando à presidência da República.
Não houvesse o processo, o sucessor de Luis Inácio da Silva seria ele e não ela. A confusão que se armou foi que abriu espaço para a então titular das Minas e Energia. Mas este é outro lado, bem concreto, da questão.
O fato é que a frase da presidente na Espanha possui um duplo sentido, foi feita com habilidade, pois, ao mesmo tempo em que admite os erros, reconhece que ninguém está acima deles e das paixões.
Deixou assim no ar um toque de duplo sentido. As decisões da Corte Suprema e as paixões humanas. Talvez até porque a pena aplicada a Dirceu foi marcada por controvérsia original, colocando em choque aberto os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Levandowsky.
Mas a Corte possuía mais oito integrantes. As razões, no caso específico, não obtiveram unanimidade. Portanto, tampouco as paixões. Dilma, com a afirmação, equilibrou politicamente gregos e troianos, mas colocou o respeito à Justiça acima de tudo. Mas nem por isso, deixou leve pensamento no ar contra a pena imposta.
De outro lado, a presidente brasileira foi quem logo pediu reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU para fixar de imediato o cessar fogo na faixa de Gaza entre Israel e o Hamas e o Hezbollah. Uma solução política que cem faltando há 64 anos ao Oriente Médio. Uma convergência, retórica, mas que vale por si como forma de protesto à violência.
Harmonizar as explosões com as partes em conflito é sobretudo difícil. O atual governo de Mahmoud Abbas, da Palestina, outrora adversário de Israel, hoje empenha-se pela coexistência, mas é contestado pelo Hamas e Hezbollah. Por sua vez, Israel, nos ataques que desfechou, não matou somente o comandante militar do Hamas mas também famílias de civis, entre as quais crianças.
As baixas foram muito maiores no lado palestino, o que demonstra a fúria desmesurada dos ataques.
O presidente Barack Obama apoiou Israel. Dilma agiu certo ao pedir a convocação do Conselho de Segurança da ONU. O resultado? Como tantos outros que se desenvolveram através do tempo. Mas nem por isso pode-se deixar de tentar.
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SEGURANÇA
Em entrevista à Folha de São Paulo, o sociólogo Cláudio Beato, especialista em segurança pública afirmou ao repórter Mário Cesar Carvalho não ser contrário, em situações excepcionais, a negociar soluções (de segurança) com as forças da insegurança.
Isso significa aceitar uma segunda versão do estado entre o poder público e as forças do crime.
Tem razão, entretanto, quanto à falência do sistema prisional e da capacidade de controle dos presídios. Uma ação urgente se impõe.
Mas a negociação é algo muito arriscado. Pode terminar gerando ainda mais insegurança. Pois o crime e os criminosos não têm limite.
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