Carrie Mathison, do seriado 'Homeland', simboliza o momento vivido pelas mulheres norte-americanas
O general, é claro, é David Petraeus, herói de guerra americano e celebridade da mídia, cujo caso cibernético e carnal com a biógrafa o forçou a renunciar à direção da CIA.
A mulher? Não é Paula Broadwell, sua amante, embora eu me sinta mal ao pensar que a narrativa pública, de modo geral, apresentou esse homem muito poderoso como vítima vulnerável dos braços esculturais dela, ao invés de vítima de seu próprio descuido e narcisismo.
Não, minha mulher do momento é Carrie Mathison. Como Broadwell, ela trabalha no setor de segurança nacional -para a CIA, na verdade, para penetrar e prevenir os mais graves ataques terroristas contra os EUA desde o 11 de Setembro.
A capacidade de Carrie de focar e trabalhar arduamente, mesmo em detrimento da sua saúde, é legendária. Seu intelecto obsessivo lhe permite encontrar ligações entre peças aparentemente díspares de quebra-cabeças e frustrar terroristas.
Sua intuição e sua arquitetura emocional lhe proporcionam habilidade incomum para captar os pontos fracos dos ativos humanos que ela cultiva e administra.
Ela já identificou terroristas em solo americano, até dentro de órgãos de segurança, mesmo quando seus colegas achavam que estava louca, ou talvez louca por homens, e a puniram por sua persistência.
Seus colegas são quase exclusivamente homens: subordinados, mentores e chefes ou terroristas que ela espiona, manipula e persegue no Líbano, no Iraque ou em Washington. Carrie não é nenhuma santa moral e já teve no passado algum relacionamento pessoal com o homem que hoje é vice-diretor da CIA.
Carrie Mathison, um pseudônimo? Não -ela é a heroína do seriado de TV "Homeland".
Imperfeita, ferida, mas ainda assim capaz de empregar seus poderes do intelecto, da emoção, da coragem física, da intuição e da sexualidade -isso mesmo- a serviço da segurança nacional.
Não vou revelar as escolhas dolorosas que ela fará nos próximos capítulos. Talvez o tratamento que dá ao herói de guerra americano que virou espião terrorista Nicholas Brody não possa realmente ser visto como exatamente uma escolha, em vista dos sentimentos e deveres dela.
Seja qual for seu campo de atuação, as mulheres que trabalham em profissões em que são principalmente homens a redigir as regras do jogo sem dúvida vão se identificar com a frustração, a persistência, a garra e o estresse enorme que a atriz Claire Danes retrata em Carrie.
Voltando à eleição: cinco mulheres novas foram eleitas para o Senado dos EUA, onde o total agora é o recorde de 20, entre cem cadeiras.
E 19 mulheres novas conquistaram lugares na Câmara, onde agora temos o recorde de 78 num total de 434 cadeiras. Levará tempo, mas as novas regras que elas escreverem e as lutas que travarem vão ter mais impacto por bem mais tempo que todos os dramas de TV, fictícios e reais, das últimas semanas.
21 de novembro de 2012
Folha de São Paulo
@JuliaSweig
JULIA SWEIG é diretora do Programa América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations
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