"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

CARTA ABERTA AOS ESTADISTAS DO MUNDO

    
          Artigos - Economia 
Como você pode declarar fidelidade à paz e a não violência e, ao mesmo tempo, pedir por mais redistribuição forçada?
Vocês veem uma falha qualquer no mercado como razão para o governo crescer, mas raramente veem as falhas do governo como razão para limitá-lo.
A propósito, de onde vocês acham que vem a riqueza?

Caros amigos estatistas,

Eu sei, eu sei… Vocês já têm uma objeção à minha carta. Vocês não gostam do rótulo “estatista” e não se veem como adoradores do governo. Ao invés disso, se veem como pessoas que simplesmente desejam ajudar as pessoas, e o governo é apenas o seu meio favorito para atingir esse valioso fim. “Estatista”, vocês dizem, é um termo carregado – um nome pejorativo que sugere mais do que estão dispostos a admitir publicamente.

Bem, vamos ver como o termo parece depois de vocês terem lido minha carta até o fim e respondido as suas perguntas. Se estiver em dúvida se essa missiva é direcionada a você, deixe-me explicar para quem estou escrevendo. Se você está entre aquelas pessoas que gastam a maior parte de seu tempo e energia defendendo propostas que expandem da ação governamental e pouco ou nenhum tempo recomendando reduções compensatórias do poder do estado, então essa carta realmente achou seu destino.

Vocês são inteligentes e estão sempre encontrando novas formas do governo fazer isso ou aquilo, se pronunciar sobre algumas questões, resolver problemas ou suprir alguma necessidade em algum lugar. Até nós, defensores de um governo limitado, somos atolados em suas minutas sobre como os programas que propõem devem funcionar (ou não funcionar). Enquanto fazemos o trabalho técnico, que vocês raramente fazem, vocês nos demonizam como insensíveis devoradores de números que não se importam com as pessoas.

Às vezes nós também nos enrolamos em questões técnicas e ignoramos o contexto. Eu proponho darmos um passo atrás por um momento. Deixem de lado suas listas com infinitas sugestões de coisas que o governo poderia fazer e foquem o quadro geral. Eu preciso de respostas sérias para algumas perguntas sobre as quais vocês talvez nunca tenham pensado, por estarem envolvidos demais com os programas du jour.

No começo do século XX, todos os níveis de governo dos Estados Unidos tomavam apenas 5% da renda das pessoas. Cem anos depois, ele toma mais de 40% — oito vezes mais. Então, as minhas primeiras perguntas são as seguintes: Por que isso não é o suficiente? Quanto mais vocês querem? 50%? 70%? Querem tudo? Até que ponto vocês acreditam que alguém tem direito à renda que ele ou ela ganhou?

E eu quero números específicos. Como milhões de americanos que planejam a aposentadoria e a educação de seus filhos, eu preciso saber. Eu já sacrifiquei muitos planos para pagar as suas contas, mas se vocês querem ainda mais, terei que cortar significativamente minhas doações para caridade, meus gastos eventuais, minhas economias para emergências, minhas futuras férias, e algumas outras coisas que talvez valessem a pena fazer.

Eu sei o que vocês estão pensando: “Lá vem você novamente com seu caráter egoísta. Nós estamos preocupados com as necessidades de todas as pessoas e você só está interessado na sua conta bancária”.
Mas quem está realmente preocupado com dólares e centavos aqui, eu ou vocês?

Por que será que por eu discordar de vocês em relação aos meios, vocês quase presumem que me oponho aos seus fins? Eu desejo que as pessoas se alimentem bem, vivam vidas longas e saudáveis, tenham acesso aos cuidados médicos e aos remédios que precisam etc, etc.. exatamente como vocês. Mas acontece que eu acredito na existência de maneiras mais criativas e voluntárias de fazer isso acontecer do que usar a força governamental para roubar de Peter e entregar a Paul. Por que vocês não mostram confiança em seus compatriotas e presumem que eles também são capazes de resolver os problemas sem vocês?

Nós não somos ignorantes, sem escolhas, apesar do desempenho das suas escolas estatais e de termos que nos virar com um pouco mais da metade do que ganhamos. Na verdade, dê-nos um pouco de crédito por termos conseguido fazer coisas incríveis como alimentar, vestir e abrigar mais pessoas, e em um nível maior, do que qualquer sociedade socializada jamais sonhou, mesmo com um corte de 40% em nosso salário.

E isso levanta uma série de perguntas sobre como vocês veem a natureza do governo e o que aprenderam — se é que aprenderam — sobre as nossas experiências coletivas com ele. Eu vejo o governo ideal como viram os fundadores dos Estados Unidos.
Nas palavras atribuídas a Washington, o governo é “um servo perigoso” que emprega a força legal para a proteção das liberdades individuais. Sendo assim, ele é responsável por deter fraudes e violência, e por se manter pequeno, limitado e eficiente. Como você pode declarar fidelidade à paz e a não violência e, ao mesmo tempo, pedir por mais redistribuição forçada?

Não invoque a democracia a não ser que esteja preparado para explicar por que “o poder gera o direito”. É claro que desejo que os governados tenham participação em qualquer governo que venha a governar, mas diferentemente de vocês, não cultivo a ilusão de que qualquer ação pode se tornar uma função legítima do governo caso seus apoiadores sejam abençoados por 50% ou mais daqueles que de dispõem a ir às urnas. Deem-me algo mais profundo do que isso ou vou arregimentar o pelotão da maioria para legitimamente revindicar tudo o que a massa quiser e pertença a vocês.

Por que será que vocês estatistas não aprendem nada sobre o governo? Vocês veem uma falha qualquer no mercado como razão para o governo crescer, mas raramente veem as falhas do governo como razão para limitá-lo. Na verdade, às vezes eu imagino se vocês conseguiriam identificar qualquer falha no governo!
Será que só capturaríamos a sua atenção com uma enciclopédia das promessas quebradas, dos programas fracassados e dos bilhões desperdiçados? Será que teríamos mesmo que falar sobre todos os paraísos dos trabalhadores que jamais se realizaram? Os programas chamativos que fracassaram? Os problemas que o governo deveria resolver, mas que serão apenas administrados em uma custosa perpetuidade?

A propósito, de onde vocês acham que vem a riqueza? Eu sei que vocês gostam de coletá-la e lavá-la por meio da burocracia – “alimentando pardais através dos cavalos,” como diria o meu avô – mas digam-me honestamente como vocês acham que a riqueza é criada. Vamos! Vocês conseguem! Digam: iniciativa privada.

Eu sei… Já fiz perguntas demais. Mas vocês precisam entender que estão pedindo muito mais em sangue, suor, lágrimas e recursos, de todos nós, toda vez que empilham mais ações governamentais sem nos aliviarem do peso que já existia. Se o que lhes perguntei acabar por fazê-los repensar suas premissas e empregar algumas restrições no alcance do estado, então talvez o rótulo de estatista não se aplique a vocês. Se for esse o caso, vocês podem vir a dedicar uma parte maior das suas energias a verdadeiramente resolver problemas ao invés de apenas falar sobre eles, e libertar pessoas ao invés de escravizá-las.

Atenciosamente,

Lawrence W. Reed
11 de janeiro de 2013
*Publicado originalmente na revista The Freeman

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