Editorial da Folha de São Paulo, publicado hoje.
Têm sido muito desencontradas as reações das lideranças petistas ao que já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso do mensalão. Condenados os principais personagens do esquema, depois de exaustivo debate entre os magistrados -muitos dos quais nomeados pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, convivem dentro do PT duas formas distintas de lidar com a notícia.
Têm sido muito desencontradas as reações das lideranças petistas ao que já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no caso do mensalão. Condenados os principais personagens do esquema, depois de exaustivo debate entre os magistrados -muitos dos quais nomeados pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, convivem dentro do PT duas formas distintas de lidar com a notícia.
De um lado, investindo talvez na imagem de um "novo PT", alguns nomes do partido se resignam aos acontecimentos. A ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, destacou-se entre os que defendem tal atitude.
"Podemos gostar ou não de como as coisas se dão", declarou, "mas nós temos de respeitar resultados e instituições."
Em direção oposta, surge com particular estridência a voz de Rui Falcão, presidente nacional do PT. Defendeu que José Genoino, mesmo condenado pelo STF, tome posse como deputado na Câmara. Acusa a imprensa de influenciar indevidamente as decisões do Supremo. Já reivindicou a abertura de uma CPI para investigar "os autores da farsa do mensalão".
Continuaria nesse teor, não tivesse o momento eleitoral recomendado maior prudência, durante a campanha, e algum alívio, agora, quando o resultado das urnas relativiza o impacto do julgamento sobre o desempenho eleitoral do partido. A vitória de Fernando Haddad em São Paulo soma-se a alguns episódios eleitorais não destituídos de ironia. No Paraná de Gleisi Hoffmann, o ex-tucano Gustavo Fruet, presença notável na CPI que tratou do mensalão, elege-se prefeito de Curitiba pela legenda do PDT -com apoio do Planalto.
Os interesses da acomodação tendem a predominar sobre o espírito que parecia orientar o prometido manifesto do PT contra o julgamento. Sua divulgação, anunciada para ontem, sofreu adiamento. É verdade que a direção partidária, mais do que se recusar a qualquer autocrítica, sempre insistiu em prestigiar os envolvidos no escândalo, em atitudes que vão desde o respeito reverencial a José Dirceu até o fraternal carinho com Delúbio Soares, a quem se escolheu, como se sabe, para arcar com uma pesada cota de sacrifício.
Só se quiser prolongar ainda mais o desgaste, todavia, a direção petista decidirá apostar em medidas extremas, como denunciar o STF como "tribunal de exceção" em organismos internacionais. Entre contentar setores mais inconformados da militância e seguir a linha prudente que tem sido a tônica do atual governo, o PT terá de fazer a sua opção.
Nesse partido, o cinismo, o ridículo, a cegueira sectária convivem, como é notório, com a visão pragmática das coisas -mais fácil de ser mantida, naturalmente, quando há novas prefeituras, novas alianças e novos nomes para continuar as políticas de sempre.
02 de novembro de 2012
in coroneLeaks
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