Quando se fala em arquitetura no Brasil, vem-nos à mente, imediatamente, a figura de Oscar Niemeyer. A gente se esquece do último vencedor do prêmio Pritzker – o Nobel de Arquitetura – de 2006, mestre Paulo Mendes da Rocha, recentemente entrado nos seus 84 anos de idade.
Lendo outro dia sobre ele, fiquei mais encantada ainda quando, na contramão dos últimos governos, ele ousou afirmar: “Outra coisa importante é que precisamos nos libertar do automóvel. O automóvel é um desastre.
E, se você persegue o mesmo modelo há anos, podemos dizer que estamos numa rota dos desastres”. E vai tecendo considerações sobre os “ridículos projetos de metrô brasileiros”. Complementando, defende a “prática de uma arquitetura de profundo engajamento social”.
Isso ressona como sublime música a meus ouvidos! “Nós – prossegue o mestre – esquecemos de que a favela foi consentida. Era a senzala de que todo mundo precisava, porque, sem zelador, faxineira e babá, ninguém poderia viver.
O problema é que não se fala nisso. O urbanismo tem que ser feito com um ingrediente fundamental: a abolição do cinismo”.
Eu não poderia perder a deixa para, pelo menos, criticar a nova prorrogação que o governo acaba de fazer do IPI menor para carros. Essa verdadeira obsessão pelos automóveis (e seus montadores, leia-se aí mais os capitalistas que os metalúrgicos) eu testemunhei ainda no primeiro governo Lula.
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ARISTOCRACIA OPERÁRIA
Todos se lembram de que, em 2003, estávamos no fundo do poço: altos índices de desemprego, um já imenso gargalo na infraestrutura e enormes safras de grãos impedidas de escoar para compradores ávidos no exterior. No Ministério do Trabalho e Emprego, descobrimos que uma parcela considerável do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) estava sendo utilizada em aplicações financeiras.
Juntaram-se, então, vários ministérios e órgãos estatais para formular um projeto especial.
A ideia era que parte do dinheiro esterilizado seria empregado para estimular a renovação da frota de caminhões, criando novos empregos nas empresas automotivas, e a outra parcela, na melhoria de alguns trechos mais necessitados das principais rodovias de escoamento da soja e do milho.
Sentamo-nos à mesa de negociações com representantes da Anfavea (entidade ligada às montadoras) e da CUT (principal central a que se filiavam os sindicatos de trabalhadores do setor automotivo). No governo, havia consenso. O que não se esperava era que os trabalhadores fossem melar o projeto.
E foi isso que aconteceu quando os representantes da CUT amarraram o acordo a uma uniformização nacional do piso da categoria. Foi tudo por água abaixo, em função de uma “aristocracia operária”, segundo a qual o salário se sobrepunha ao interesse de criar novos empregos.
E, agora, o mesmo drama se repete, quando, para gerar mais mil novos empregos, o governo Dilma se desmancha em salamaleques para a BMW, que vai instalar uma fábrica em Joinville, e ainda estica os benefícios para a compra de mais carros em nosso país. Quanta insanidade!
Lendo outro dia sobre ele, fiquei mais encantada ainda quando, na contramão dos últimos governos, ele ousou afirmar: “Outra coisa importante é que precisamos nos libertar do automóvel. O automóvel é um desastre.
E, se você persegue o mesmo modelo há anos, podemos dizer que estamos numa rota dos desastres”. E vai tecendo considerações sobre os “ridículos projetos de metrô brasileiros”. Complementando, defende a “prática de uma arquitetura de profundo engajamento social”.
Isso ressona como sublime música a meus ouvidos! “Nós – prossegue o mestre – esquecemos de que a favela foi consentida. Era a senzala de que todo mundo precisava, porque, sem zelador, faxineira e babá, ninguém poderia viver.
O problema é que não se fala nisso. O urbanismo tem que ser feito com um ingrediente fundamental: a abolição do cinismo”.
Eu não poderia perder a deixa para, pelo menos, criticar a nova prorrogação que o governo acaba de fazer do IPI menor para carros. Essa verdadeira obsessão pelos automóveis (e seus montadores, leia-se aí mais os capitalistas que os metalúrgicos) eu testemunhei ainda no primeiro governo Lula.
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ARISTOCRACIA OPERÁRIA
Todos se lembram de que, em 2003, estávamos no fundo do poço: altos índices de desemprego, um já imenso gargalo na infraestrutura e enormes safras de grãos impedidas de escoar para compradores ávidos no exterior. No Ministério do Trabalho e Emprego, descobrimos que uma parcela considerável do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) estava sendo utilizada em aplicações financeiras.
Juntaram-se, então, vários ministérios e órgãos estatais para formular um projeto especial.
A ideia era que parte do dinheiro esterilizado seria empregado para estimular a renovação da frota de caminhões, criando novos empregos nas empresas automotivas, e a outra parcela, na melhoria de alguns trechos mais necessitados das principais rodovias de escoamento da soja e do milho.
Sentamo-nos à mesa de negociações com representantes da Anfavea (entidade ligada às montadoras) e da CUT (principal central a que se filiavam os sindicatos de trabalhadores do setor automotivo). No governo, havia consenso. O que não se esperava era que os trabalhadores fossem melar o projeto.
E foi isso que aconteceu quando os representantes da CUT amarraram o acordo a uma uniformização nacional do piso da categoria. Foi tudo por água abaixo, em função de uma “aristocracia operária”, segundo a qual o salário se sobrepunha ao interesse de criar novos empregos.
E, agora, o mesmo drama se repete, quando, para gerar mais mil novos empregos, o governo Dilma se desmancha em salamaleques para a BMW, que vai instalar uma fábrica em Joinville, e ainda estica os benefícios para a compra de mais carros em nosso país. Quanta insanidade!
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