Caetano Veloso disse que torcia para ACM Neto ganhar a prefeitura de Salvador, Gilberto Gil preferia o petista Nelson Pelegrino. Uma simples divergência política entre dois velhos amigos se tornou estopim para uma tempestade de lixo digital venenoso inundar a blogosfera. Foi preciso tapar o nariz para evitar o fedor de ódio irracional que emanava dos mal traçados dígitos dos comentários dos leitores.
Sentia-se vergonha pelos comentaristas, que sem saber falavam mais deles mesmos do que dos objetos de seu ódio, mas eram tantas ofensas, injúrias e mentiras absurdas sobre Caetano e Gil - e não sobre as suas escolhas eleitorais - que valeria a pena estudar essa patologia que está crescendo no Brasil, fazendo do debate político uma disputa primitiva em que o importante não é se opor às ideias, mas desqualificar o adversário.
Eram tantos crimes, canalhices, conspirações e covardias inomináveis que uns atribuíam a Caetano, e outros, a Gil, que estes grandes artistas que honram o Brasil e nos deram inestimável contribuição de beleza e alegria, pareciam piores do que os piores delinquentes. Porque ousaram ter opiniões políticas honestas, independentes e divergentes.
É óbvio que qualquer comentário desses jamais vai mudar a opinião de alguém sobre um candidato, que deveria ser o objetivo do debate político, mas eles não querem saber a opinião dos outros, mas encontrar nos outros o seu espelho e a sua manada.
E um pretexto para botar no ar ressentimentos e rancores que têm menos a ver com a política do que com a história pessoal de cada um, de seus anseios e frustrações anônimos. É desalentador ver os instintos mais primitivos atrasando a civilização, a educação e a convivência democrática.
Passado o calor eleitoral, parece mais uma herança da era Lula, que trouxe para a política o estilo e as práticas do vale-tudo das eleições sindicais, baseado no "nós contra eles" e na aniquilação dos adversários. E encontrou na militância digital demo-tucana um oponente à sua altura, ou baixeza. Ou talvez tenha sido sempre assim no Brasil, só faltavam a internet e a liberdade de expressão.
02 de novembro de 2012
Nelson Motta
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