Apesar de ser considerado por muitos historiadores como a mais longa ditadura da história humana, o poder que obteve no mundo a Igreja Católica Apostólica e Romana, a partir do século V indo até o século XV da nossa era, esse poder nunca foi um bloco monolítico, ainda que o objetivo final fosse este, como forma de obter a salvação do homem.
A primeira tentativa de quebra na unidade da Igreja Católica, ocorreu antes do primeiro Concilio de Nicéia realizado no ano de 325 (ilustração), quando o bispo Ário (defensor do que ficou conhecido como arianismo) negou ser Jesus igual a Deus, ou seja, ser possuidor da mesma substância que Deus uma vez que tinha sido “criado” por este. Uma separação hierárquica entre pai e filho. Quem se opôs a tese de Ário foi outro bispo da Igreja primitiva, Atanásio, afirmando ser o pai, o filho e o espírito santo uma só “pessoa”, sendo da mesma natureza e substância, sem hierarquias.
A disputa só foi resolvida com o primeiro Concilio de Nicéia convocado e patrocinado pelo Imperador romano Constantino em 325 d. C. No Concilio foi decidido que a tese de Atanásio estava certa, caindo Ário em desgraça sendo considerado o seu pensamento uma forma de heresia.
Qualquer ameaça individual ao seu poder (oficial) passou a ser temido, perseguido e condenado. Qualquer ruptura que pudesse por em xeque o equilíbrio almejado pela Igreja e ao seu rebanho, foi visto como nocivo no caminho para a salvação das almas coletivamente. Foi diante desse cenário que a Igreja fez surgir em 1162 (há controvérsias com relação à data) o “Tribunal da Inquisição” ou como ficou mais conhecido como “Santa Inquisição”.
Diante do Tribunal o acusado era sempre culpado até que provasse o contrário (o mais comum era justamente o oposto), além de não ter direito a advogado de defesa. E foi diante desse grau de intolerância que na aurora do mundo moderno fez surgir homens razoáveis como, por exemplo, John Locke que escreveu:
“Confesso que me parece estranho que qualquer homem julgue correto fazer com que outro homem, cuja salvação deseja com ardor, expire em tormentos, mesmo que esse homem não se tenha convertido. Creio que todos pensarão assim. E duvido que alguém possa acreditar que tais ações tenham origem na caridade, no amor e na boa vontade. Se alguém defende que os homens devem ser obrigados, através do fogo e da espada, a professar certas doutrinas, e a aderir a determinada veneração exterior, sem que se tenha em atenção a sua moral; se houver um esforço para converter em fé aqueles que estão no caminho errado, obrigando-os a professar coisas em que não acreditam e permitindo-lhes atos que o Evangelho não autoriza; nesse caso não podemos duvidar que quem pratica esse esforço é alguém que deseja ter uma vasta assembléia, com a mesma confissão que ele.
Agora, que esse alguém , acima de tudo pretende com esses meios agrupar uma verdadeira Igreja Cristã é totalmente incrível”.
Novas formas de totalitarismo nasceram, mas a humanidade também foi capaz de produzir vozes que conseguiram opor luz as trevas e ao obscurantismo. Se em todas as épocas existiram algum tipo de opressão, a vigilância a esses preceitos continua a ser uma boa maneira de garantir a civilidade.
24 de janeiro de 2013
Laurence Bittencourt
Nenhum comentário:
Postar um comentário