Collor exige uma reparação em dinheiro. Eu exijo que ele devolva a bolada que desviou. Os leitores vão decidir quem tem razão
PUBLICADO EM 14 DE AGOSTO
Para jornalistas sérios, ações judiciais movidas por casos de polícia são medalhas. A gradação é determinada pelo prontuário de quem, em vez de dar trabalho a oficiais de Justiça e magistrados, deveria estar recolhido a uma cela. Processos patrocinados por um João Paulo Cunha, por exemplo, não vão além de medalhas de bronze. Ganhei uma. Duelos no tribunal com Orestes Quércia garantiam medalhas de prata. Ganhei duas. Um Fernando Collor vale medalha de ouro. Ganhei quatro.
Vem aí a quinta, informa a ação de indenização ajuizada na semana passada pelo ex-presidente escorraçado pelo Brasil decente do cargo que desonrou. Desta vez, Collor quer ser compensado em dinheiro pelo desgosto que lhe causaram três textos publicados nesta coluna nos dias 13, 19 e 27 de março deste ano.
Comparada a posts que descrevem mais detalhadamente a figura abominável, a trinca que ampara a ação judicial é quase gentil. Pelo jeito, qualquer pretexto está de bom tamanho para o falso caçador de marajás agora fantasiado de caçador de jornalistas.
Com o título A multidão que devora verbas na casa do espanto e o espantoso verão de Collor, o primeiro texto trata da bolada consumida pelo senador do PTB alagoano em janeiro, quando o Congresso estava em recesso. Onde a repórter Júlia Rodrigues enxergou um desperdício criminoso do que é extorquido dos pagadores de impostos o perdulário compulsivo enxergou uma trama destinada a denegrir-lhe a imagem. Como se houvesse imagem a denegrir.
O segundo post se apoia nos mais recentes desvios de verbas públicas protagonizados pelo reincidente incurável para sublinhar a constatação resumida no título: Collor confirma: O Brasil mudou para pior. Ao ajuizar a ação, o ex-presidente jurou que jamais malbaratou ou embolsou o que não lhe pertence. O terceiro texto ─ O rebanho da seita que acoberta bandidos de estimação quer furar a fila do tribunal ─ apenas inclui o líder da bancada do cangaço na relação de pecadores aparentemente condenados à perpétua impunidade.
Caprichando na pose de ofendido, Collor argumenta que foi “inocentado pelo Supremo Tribunal Federal e absolvido pelo povo brasileiro”. Inocentado pelo STF coisa nenhuma. A maioria dos ministros deixou de condenar “por falta de provas” o ex-presidente de um país cuja Justiça, pelo andar da carruagem, daqui a pouco só vai punir ladrões que gravem em vídeo o ato criminoso e confessem o que fizeram ─ ao vivo ─ no Jornal Nacional.
Absolvido pelo povo brasileiro coisa nenhuma. Uma parte do eleitorado alagoano garantiu-lhe a cadeira no Senado. Candidato a governador em 2010, foi surrado nas urnas já no primeiro turno. Virou amigo de infância de Lula, bajula Dilma Rousseff, faz qualquer negócio para conseguir espaço na vitrine em que já foi a atração principal. Mas nunca mais será presidente. Essa certeza angustiante vai atormentá-lo até a morte.
Em qualquer país menos primitivo, Fernando Collor estaria na cadeia há muito tempo. Num Brasil castigado pela corrupção impune, não só continua em liberdade como insulta o procurador-geral da República, calunia jornalistas honestos e coleciona ações judiciais que acabam adornando com mais uma medalha de ouro o currículo de quem vê as coisas como as coisas são.
Ele exige uma reparação em dinheiro. Eu exijo que ele devolva pelo menos a “verba indenizatória” que torrou em janeiro. Os leitores vão decidir quem tem razão.
03 de janeiro de 2013
Augusto Nunes
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