"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A DÉCADA QUE NÃO EXISTIU

 

John Boehner, de Ohio, afirmou na quarta-feira: “Em algum momento Washington terá de lidar com seu problema de gastos. Tenho observado que essa questão está sendo empurrado com a barriga há 22 anos desde que estou aqui. Estou farto. É hora de agir”.



22 anos? De fato, Boehner foi eleito em 1990 e ingressou na Câmara no início de 1991. Então o que foi feito durante, digamos , sua primeira década no cargo? Vejamos. Hum…. parece que os Estados Unidos estavam reduzindo drasticamente sua dívida durante a presidência de um certo Bill alguma coisa.

OK, brincadeiras à parte, isto é importante. Os republicanos inventaram uma história de que houve irresponsabilidade fiscal sempre – e muitos centristas adotaram essa premissa. A realidade que é nosso endividamento era muito baixo e não tínhamos nenhum problema fiscal antes de Reagan; e depois houve um aumento sem precedentes em período de paz de déficits durante o governo Reagan/Bush; e em seguida uma grande melhora no governo Clinton; em seguida um esbanjamento do superávit de Clinton mediante cortes de impostos e guerras sem financiamento no governo Bush. E claro, registramos um aumento da dívida durante a Grande Recessão, mas é exatamente quando você contabiliza déficits.

A questão na história falsa que apaga os anos Clinton é que isso transforma o orçamento numa história em que ninguém está errado porque todos erraram e o problema é uma questão genérica de gastos desenfreados. Não é. Teríamos entrado nesta crise com uma dívida muito pequena se os republicanos não tivessem insistido sempre em cortes de impostos.

12 de fevereiro de 2013
Paul Krugman

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