Em 1966, os jovens da Guarda
Vermelha saquearam casas e destruíram obras de arte na perseguição aos inimigos
do Estado. Milhares de pessoas foram mortas ou levadas às prisões, sendo
submetidas ao frio, torturas e humilhações. Nem é preciso lembrar a fome,
atribulando bilhões de chineses, principalmente aquela maioria residente nas
comunas rurais.
O caráter e a selvageria de
Mao Tsé Tung, está descrito em “Mao – A História Desconhecida.” Um trabalho de
fôlego, bem documentado, que revela face real do líder da revolução chinesa e a
semelhança da onda de crueldade, desumanidade, assassinatos e desconstrução
cultural, minimizados na história oficial das revoluções.
Jiang Quing, última das
madames Mao, descrita por seus contemporâneos como “um cão obediente que mordia
a quem o promíscuo e degenerado Mao ordenasse,” era procedente do submundo de
Xangai envolveu-se numa conspiração contra o marido tirano. Foi “deletada” junto
com outros comparsas. A história oficial fixa personagens maquiados,
transfigurados enquanto outros são apagados da foto. E sempre omite a referência
aos financiadores internacionais.
Como aconteceu em outros
ambientes arrasados por revoluções comunistas, o caráter nacionalista e a
dignidade do povo chinês resistiram. O respeito às tradições culturais, está
descrito em biografias como - “Vida e Morte em Xangai”, de Nien Cheng e “Adeus à
China” de Li Cuxim, que aos sete anos foi enviado do campo, onde a família de
muitos irmãos se alimentava exclusivamente de inhame seco, para a escola de balé
mantida pela Madame Mao.
Nem a extrema pobreza
conhecida no interior do Brasil, se pode comparar àquela descrita pelo
bailarino, que passou para a escola chinesa tudo quanto aprendeu com uma bolsa
oferecida pelo Huston Ballet. A propaganda contra o “capitalismo imperialista”
desmoronou diante da liberdade ocidental, revelando ao jovem bailarino chinês os
contornos da crueldade do Estado Comunista, de onde desertou para o ocidente,
numa segunda viagem.
Existem historiadores que
justificam tudo, face à gigantesca população da China. Justificam até a matança
de milhões e submissão de outros tantos à fome e ao terror desencadeado pelos
agentes do Estado, seguindo antecedentes da União Soviética de Lenin e Stalin e
outros dirigentes de revoluções, que parecem modelar o tipo de condução que os
governantes imprimem Estados no mundo atual, acossado pela ideologia dos
socialistas fabianos.
Mas é difícil imaginar as
condições de uma “comuna” chinesa nos anos 2000, onde os banheiros eram buracos
no chão e os dejetos recolhidos por um profissional para servir de esterco nas
lavouras, quando aquele país expõe ao mundo uma vitrine capitalista, que já
emprega aproximadamente 1/6 dos trabalhadores ativos em indústrias eletrônicas,
de calçados e outros itens que trazem as grandes marcas de indústrias
transplantadas do ocidente.
Nos anos 2000, calçados,
vestuário, eletrônicos e quinquilharias “made in China” podem ser encontrados em
cada loja elegante e em cada biboca do mundo. Mas os bilhões de chineses nos
campos e nas fábricas continuam na situação degradante de escravos do Estado
regido pelo Partido Comunista. Como no ocidente, os poderosos exibem o luxo
extravagante, mantido pelo esforço obediente da maioria aterrorizada, mal
educada, mal informada e conduzida em estado degradante, atemorizada pela
violência.
Destas leituras é possível
depreender o senso chinês de obediência à autoridade hierárquica na família e
veneração dos antepassados como valores tradicionais intocados e preservados em
silêncio diante da brutalidade do Estado. Valores mantidos enquanto os comuns
lidam com realidades que reforçam a submissão, mas nem de perto ferem o caráter
nacionalista e a soberania por excelência.
Em política, tanto quanto em
questões de fé religiosa, contrários são contrários, portanto incompatíveis. No
estado democrático de direito, o pressuposto é a consciência dos indivíduos,
organizados em associações profissionais, culturais, esportivas, afins,
esmerando-se em superar dificuldades de natureza diversa, agindo como equipe na
construção do bem estar de todos.
No modelo de estado
ditatorial coletivista as escolhas individuais são proibitivas. A coletividade é
coagida a seguir o pensamento do partido ditador que determina o que cada pessoa
deve pensar e fazer, enquanto os grandes contingentes mecanicistas, que passaram
por lavagem cerebral, atuam como fanáticos à falta de opção, desinformados e sem
acesso a termos comparativos.
Neste momento, entre nós, as
pessoas arrancadas de suas raízes culturais, com a mente saturada pela
propaganda coletivista, sentem estranheza diante da complexidade de mudanças de
pensamento e comportamento, da exposição de privacidade e controle exercido pelo
Estado. O medo à autoridade se sobrepõe à razão e à lógica. A responsabilidade,
a ética, os limites e mesmo as leis se tornam estranhas e hostis. Os mecanismos
aplicados contra chineses, russos e outros, sutilmente, afetam os
brasileiros.
São tantas e de natureza tão
variada as armadilhas impostas pela cultura globalitária – entretenimento,
violência e insegurança, preços, impostos, promessas não cumpridas, desrespeito
à Constituição, emaranhado de Leis casuais, drogas, corrupção, comprometimento
dos ganhos futuros, abandono da saúde pública... – que os homens simples se
sentem rendidos, aparvalhados. Resta a liberdade de espírito diante da
desconstrução cultural conduzida pela “nova ordem”, como chamam agora a prática
agressiva do “internacionalismo proletário” disfarçado de
democracia.
Ref.:
“Mao,
a história desconhecida” – Jon Halliday e Jug Chang, Ed. Companhia das Letras,
São Paulo, 2006;
“Vida
e Morte em Xangai” – Nien Cheng, Ed. Record, Rio de Janeiro,
1986;
“Adeus
à China” – Li Cuxim
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