"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A HISTÓRIA COMO A HISTÓRIA FOI

 



Um dos textos que mais circulam hoje na Internet diz que, na época da ditadura militar, podia-se fazer de tudo – namorar no carro até meia-noite em total segurança, usar o INPS como único seguro de saúde, cortar árvores infestadas sem precisar de licença ambiental, andar tranquilamente nas ruas a qualquer hora – exceto falar mal do presidente. Só falta dizer, no texto, um “que bons tempos!”

Só que este colunista viveu aquela época. Foi quando O Vermelho e o Negro, livro clássico de Stendhal, publicado pela primeira vez em 1830, foi apreendido por acharem que o vermelho do título tinha a ver com comunismo.

INPS como único seguro de saúde? Claro: e este colunista, ávido por desperdiçar dinheiro, contratou um seguro-saúde privado. Morria-se esperando tratamento. E acredite (veja os jornais da época): era muito pior do que é hoje.

Segurança? Talvez para quem não morasse no Brasil. Os assaltos cresceram. O Esquadrão da Morte, formado por maus policiais, matava por encomenda – um concorrente de negócios, por exemplo, era assassinado por eles, o corpo jogado em algum lugar e, com auxílio de jornalistas amestrados – já os havia, só que do outro lado – informava-se que “o presunto” de “um meliante” tinha sido encontrado.

E isso tudo não envolvia falar mal do presidente, não: esta era a vida normal (e explica por que tanta gente se mobilizou na luta pelas diretas-já, que encerrariam a ditadura). Falar mal do presidente era punido com tortura e morte.

Há gente que defende esse regime. E o pior é que há quem acredite neles.
Pra que mentir?

Tereza Collor não mandou carta a Renan Calheiros, a revista Forbes não publicou capa nenhuma dizendo que Lula era um dos homens mais ricos do mundo, não há qualquer indício de que o deputado petista gaúcho Paulo Pimenta seja dono oculto da boate que pegou fogo em Santa Maria, as estatais não foram privatizadas a preço de banana, as acusações contra Renan Calheiros se referem a fatos recentes, de 2007 (posteriores à época em que foi ministro de Fernando Henrique).
Governo e Oposição estão cheios de defeitos. Por que inventar outros?

A vergonha e a mentira

Lembre do vereador Kirrarinha, DEM, que agrediu uma repórter e foi filmado (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wo1aP8O1lSc#)
Pois bem: o covarde (cujo nome verdadeiro é Lourivaldo Morais) acaba de ser nomeado secretário municipal de Esportes de sua cidade, Pontes e Lacerda, nomeado pelo prefeito Donizete da Len, do PPS.
Parece inacreditável (e é): um agressor de jornalistas, um agressor de mulheres, prestigiado por seu partido, o DEM mato-grossense, e por um prefeito aliado. Esta é a vergonha.

A mentira ocorreu antes: alguém espalhou que José Rainha (um dos líderes do MST) seria o agressor. Não foi José Rainha: o covarde foi Kirrarinha.

E a mentira é ainda mais grave porque, seja Rainha o que for, Kirrarinha é muito pior.

De papo pro ar

Neste momento, estão em pauta no Congresso alguns temas da maior importância: o Orçamento deste ano (que não foi votado no ano passado e deixa o Governo em suspenso), mais de três mil vetos presidenciais não apreciados, trancando a apreciação de vetos atuais, Fundo de Previdência dos Servidores Públicos, fator previdenciário, situação dos portos, que podem entrar em greve.

Mas é Carnaval. No Congresso, começou dia 6, quando apareceram cinco dos 513 deputados e oito dos 81 senadores. Suas Excelências encerram dia 19 o período de sassarico. Descansar é preciso: as férias de fim de ano duraram apenas 39 dias.

De 1º a 5 de fevereiro os congressistas tiveram de trabalhar, e isso cansa.

El atrevido

José Dirceu, condenado à prisão pelo Supremo no caso do Mensalão, está promovendo atos públicos pelo país em defesa de sua inocência e contrários à decisão judicial . Está no seu direito.
Uma coisa, entretanto, não pode ser tolerada: o embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Sanchez, participou de um dos ato. É uma intervenção totalmente sem sentido na política interna brasileira. É inaceitável que um embaixador participe de manifestações contra a decisão de um dos Poderes da República.

O intrometido ainda diz que continuará participando da afronta ao Brasil e às leis. Pior: Brasília está paralisada. Nem protestou, nem enquadrou el metidón.

Se o embaixador americano participar de uma manifestação desse tipo, a presidente Dilma Rousseff ficará calada?

A descoberta de Cabral

O governador fluminense Sérgio Cabral, ao contrário do que se imaginava, não chegou ao fundo do poço com as ridículas fotos da Turma do Guardanapo, em Paris, em que ele e amigos dançavam com guardanapos na cabeça e suas esposas mostravam a sola dos sapatos, para provar que eram os caros Louboutin. Cabral foi mais fundo: disse que os 27 presos que fugiram no dia 3, com toda a facilidade, do Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio, “terão os benefícios cancelados”.

Que benefícios, cara-pálida? Nem benefícios nem punições: eles estão nas ruas, prontos para cometer novos crimes. Cabral explica: perderão os benefícios da progressão de pena “quando forem recapturados”. Se forem.

12 de fevereiro de 2013
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.

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