Após o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) reduzir para zero a tolerância à embriaguez ao volante, motoristas estariam tomando o remédio acreditando que ele reduz a concentração de álcool no sangue, e, assim, o livra do rigor do bafômetro.
“O pessoal anda procurando muito para tratar a bebedeira”, disse o atendente.
O medicamento foi recentemente desenvolvido por pesquisadores da Universidade Hebráica de Jerusalém. Ele é composto por pidolato de piridoxina, um variante da vitamina B6, usado no tratamento de alcoolismo.
Por ser de tarja vermelha, ele deve ser vendido apenas com prescrição médica. Mas a reportagem esteve em três farmácias da capital, e nenhuma exigiu a apresentação da receita.
A procura pelo remédio teria aumentado depois que um vídeo no site YouTube começou a ser amplamente compartilhado, há cerca de duas semanas. Nas imagens, três jovens aparecem bebendo e tomando o remédio. Em seguida, um deles faz o teste do bafômetro – que acusa zero de álcool. Outros usuários usaram as redes sociais para confirmar o efeito.
SEM EFEITO
Farmacologistas e médicos especialistas em alcoolismo, no entanto, são categóricos em afirmar que nenhum composto químico reduz a zero o álcool no sangue.
“O medicamento acelera o metabolismo do etanol no organismo, mas não anula a concentração do álcool, nem normaliza os reflexos”, explicou o farmacologista Lucas Kangussu. Não há assim, nenhuma melhora na condição física ou motora do motorista.
Segundo Jerson Soares, médico do Centro Mineiro de Toxicomania, o pidolato de piridoxina apenas reduz os efeitos do álcool. “Os alcoolistas (alcoólatras) têm déficit de vitaminas no organismo, por isso receitamos complexos vitamínicos em grande dosagem para minimizar os danos”, afirmou.
Algumas pessoas relataram na internet que o medicamento ainda ajudou a curar a ressaca, no dia seguinte. “Isso funcionaria se uma pessoa, que já tem o fígado debilitado, usasse o medicamento por muito tempo”, explicou Soares.
Comercializado no país desde 2008, o medicamento ainda passa por testes clínicos. A bula adverte que “efeitos indesejáveis e não conhecidos podem ocorrer”. Entre eles, estão transtornos gástricos e bolhas na pele.
“O medicamento é indicado para situações clínicas específicas, como intoxicação, alcoolismo crônico e fígado gorduroso. Não se sabe os efeitos que ele pode produzir no caso de ser ingerido após grande quantidade de álcool”, destacou Kangussu. “Trata-se de um complexo vitamínico que altera o sistema nervoso”, completou Soares.
09 de fevereiro de 2013
Lucas Simões e Joana Suarez (O Tempo)
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