Todas as vezes que chega o carnaval só me vem à mente de forma insistente, quase compulsiva a música de Chico Buarque de Hollanda:
“Carnaval desengano, deixei a dor em casa me esperando, e brinquei e gritei e fui vestido de rei, quarta feira sempre desce o pano”.
Eta craque de bola esse Chico. Um gigante. Um gênio da letra e da música. “Carnaval desengano, deixei a dor em casa me esperando, e brinquei e gritei e fui vestido de rei, quarta feira sempre desce o pano”.
(Ouça cantado por Paulinho da Viola Paulinho Da Viola – Sonho De Um Carnaval).
Talvez me venha à mente essa música porque sempre achei meio que de improviso que um dos maiores medos do ser humano e ser tido com louco, como proscrito, como perturbado mental, como diferente. O medo da loucura só rivaliza com o medo da morte.
E carnaval é a festa da loucura, do que é permitido, do momento mais democrático no sentido igualitário do termo (se é que existe mesmo esse momento tal a diversidade humana), a festa dionisíaca.
Interessante que foi Nietzsche num lance de gênio “escutando” ou auscultando a antiguidade grega que percebeu que a humanidade se orienta por duas forças, a força dionisíaca (do deus Dioniso, Baco, o deus do vinho, do erotismo, da embriaguez) e a força apolínea (do deus Apolo, o deus da correção, da limpeza, da razão, da racionalidade).
O culto a Dionísio representa, portanto esse momento de liberdade e embriagues, de festa e de espontaneidade, de soltar as algemas e a rigidez da civilização com suas elaborações permanentes e racionalidade. O carnaval é o momento da liberdade, e do desengano. É o momento da ilusão.
E segue a música: “era uma canção, um só cordão, e uma vontade de tomar a mão, de cada irmão pela cidade”. Esse espirito de solidariedade parece transbordar as ruas, e alma de todo aquele que vai para a rua, para o frevo, para o carnaval. Pois com diz a música, “carnaval esperança, que gente longe viva na lembrança, que gente triste possa entrar na dança, que gente grande saiba ser criança”.
Pois quarta feira sempre desce o pano.
Bom carnaval a todos.
09 de fevereiro de 2013
Laurence Bittencourt
Já devem saber que não sou nenhum falso moralista, apenas exerço minhas possibilidades de enxergar as coisas como elas são.
Também não sou chegado no petralha citado, como pessoa. Reconhecendo apenas o talento da composição. Tanto que aprecio algumas de suas músicas, quando cantadas por outros, e essa do Paulinho é um must. As duas primeiras palavras da letra dizem tudo: Carnaval… Desengano…