"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 9 de fevereiro de 2013

UM SÓ CORDÃO

Eta craque de bola esse Chico. Um gigante. Um gênio da letra e da música.
 
(Ouça cantado por Paulinho da Viola Paulinho Da Viola – Sonho De Um Carnaval).
 
...de perder a cabeça
…de perder a cabeça

Talvez me venha à mente essa música porque sempre achei meio que de improviso que um dos maiores medos do ser humano e ser tido com louco, como proscrito, como perturbado mental, como diferente. O medo da loucura só rivaliza com o medo da morte.
 
E carnaval é a festa da loucura, do que é permitido, do momento mais democrático no sentido igualitário do termo (se é que existe mesmo esse momento tal a diversidade humana), a festa dionisíaca.
 
Interessante que foi Nietzsche num lance de gênio “escutando” ou auscultando a antiguidade grega que percebeu que a humanidade se orienta por duas forças, a força dionisíaca (do deus Dioniso, Baco, o deus do vinho, do erotismo, da embriaguez) e a força apolínea (do deus Apolo, o deus da correção, da limpeza, da razão, da racionalidade).
 
O culto a Dionísio representa, portanto esse momento de liberdade e embriagues, de festa e de espontaneidade, de soltar as algemas e a rigidez da civilização com suas elaborações permanentes e racionalidade. O carnaval é o momento da liberdade, e do desengano. É o momento da ilusão.

Há toda uma construção teórica sobre a origem da palavra carnaval, que pode derivar sem dúvida de “carne”, a festa da carne, do profano, dos sentidos. E a música de Chico de Buarque, a marchinha melodiosa, cantada de uma forma (um paradoxo) quase triste, mas que revela num todo a esperança que rege esse momento.
 
E segue a música: “era uma canção, um só cordão, e uma vontade de tomar a mão, de cada irmão pela cidade”. Esse espirito de solidariedade parece transbordar as ruas, e alma de todo aquele que vai para a rua, para o frevo, para o carnaval. Pois com diz a música, “carnaval esperança, que gente longe viva na lembrança, que gente triste possa entrar na dança, que gente grande saiba ser criança”.
Pois quarta feira sempre desce o pano.
Bom carnaval a todos.

09 de fevereiro de 2013
Laurence Bittencourt

Uma Resposta para UM SÓ CORDÃO

 magu disse

Poético Laurence

  1. É mesmo a festa da carne. Putaria generalizada, onde grande parte das pessoas perde as peias societárias e dão vazão apenas aos instintos, evitando habilmente os conceitos de ética, honra e respeito ao próximo. Grande parte dá tudo para qualquer um. Só interessa o prazer. É assim que conseguimos ver quanto de crueza ainda existe no ser dito humano. O esporte do halterocopismo é praticado até que não tenham mais forças para levantar o copo, a eliminação dos dejetos próprios dos processos corporais é feita em qualquer esquina, quando não desabam em seus carros e saem matando pessoas por falta de equilibrio. Lance de mestre de quem criou a festa, como uma válvula de escape para aliviar o excesso de pressão das normas da sociedade para que, após alguns dias de bagunça, de trazer à tona todos os baixos instintos, os seres voltem a vestir a máscara de pretensa humanidade durante o resto do ano, disfarçando-se de “gente”.
    Já devem saber que não sou nenhum falso moralista, apenas exerço minhas possibilidades de enxergar as coisas como elas são.
    Também não sou chegado no petralha citado, como pessoa. Reconhecendo apenas o talento da composição. Tanto que aprecio algumas de suas músicas, quando cantadas por outros, e essa do Paulinho é um must. As duas primeiras palavras da letra dizem tudo: Carnaval… Desengano…

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