"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 10 de março de 2013

MINISTROS DEMITIDOS ESTÃO DE VOLTA DA FAXINA ÉTICA DE DILMA

Para garantir apoio dos partidos à reeleição, presidente reabilita Lupi e Nascimento, afastados em 2011

 
BRASÍLIA — Um ano e meio depois da faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff no primeiro escalão do governo, em resposta à crise ética gerada pelas suspeitas de irregularidades em vários ministérios, dois dos sete ministros que caíram estão sendo reabilitados pelo Palácio do Planalto: os presidentes do PR, senador Alfredo Nascimento, e do PDT, Carlos Lupi.
Eles foram chamados pela presidente para discutir a prometida reforma ministerial, que será feita para garantir o apoio de todos os partidos da coalizão governista à reeleição, ano que vem.

Dos processos abertos contra os ministros que deixaram o governo em 2011, acusados de irregularidades, poucos andaram. Afora censuras e advertências sem efeito prático na vida pública dos acusados, não houve punições. Alguns inquéritos se arrastam na Justiça.

Além de Nascimento e Lupi, perderam o cargo sob suspeita ao longo de 2011 os ex-ministros Antonio Palocci (Fazenda), Wagner Rossi (Agricultura), Orlando Silva (Esporte), Pedro Novais (Turismo) e Mário Negromonte (Cidades). Todos voltaram à vida política ou empresarial. Como Palocci, que retomou com força sua atividade de consultor — motivo da demissão —, assumindo recentemente um trabalho para o grupo CAOA, que controla a Hyundai no Brasil.

Mas o ex-todo poderoso ministro do governo petista não tem mantido atuação político-partidária. Deputados petistas, inclusive os paulistas, afirmam que nunca mais falaram com Palocci. Ele tem se mantido tão distante da política que sequer apareceu para votar na eleição de Ribeirão Preto, no ano passado.

Outro que também está sumido da política é o peemedebista Wagner Rossi, que optou por uma discreta passagem na convenção nacional do PMDB que reelegeu Michel Temer, no fim de semana passado. Na Câmara, Negromonte e Novais mergulharam no ostracismo e se escondem na multidão de 513 parlamentares. Orlando Silva continua na política, como vereador em São Paulo pelo PCdoB. Quem conseguiu se recolocar na órbita de Dilma deve essa retomada ao poder que exerce em seus partidos.

— Acho que a presidente sentiu saudade de mim. O partido teve muita resistência à forma como foi conduzida (a minha sucessão), se sentiu desprestigiado. Agora voltamos a conversar. A presidente está mais solta, mais destravada, mais politizada — contou Alfredo Nascimento, que já esteve com Dilma três vezes este ano.

— A presidente quer uma aproximação maior da bancada do PDT, falou da nossa história comum — confirma Lupi, que responde ação civil pública por improbidade administrativa por ter pego carona no avião de um empresário com negócios no ministério. — Daquilo tudo, o que ficou foi o “eu te amo Dilma”. Muitos me encontram na rua e gritam “eu também te amo”.

Contra Negromonte e Orlando Silva investigações da Comissão de Ética foram arquivadas por falta de provas.

— Eu me sinto injustiçado porque sei que não há nada contra mim — disse Orlando

— Mantenho minha atuação como parlamentar, mas estou desencantado. Vasculharam tudo, fizeram papel de FBI e não encontraram nada — disse Negromonte.

10 de março de 2013
Catarina Alencastro e Isabel Braga

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