"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 10 de março de 2013

O ESPETÁCULO FÚNEBRE: MORREU UM CADÁVER


É quase certa a informação que circula pela mídia internacional de que Hugo Chávez quando chegou à Venezuela, vindo de Cuba, já estava morto.
A encenação construída pelo chavismo botocudo, potencializando o sofrimento de um morto, tinha como único objetivo fazer do caudilho um mártir às vistas da população periférica de Caracas e arredores.
Deu certo, sem dúvida. A histeria coletiva que se deu no entorno do cortejo fúnebre de Chávez, pelas ruas da capital venezuelana, é prova cabal de que a intenção não era homenagear o presidente, mas forjar uma unidade que se sabe frágil em todos os seus aspectos, do ideológico ao comportamental.
Até mesmo porque a farsa alcançou o que de mais cruel existe em termos de manipulação popular, no caixão que perambulou pelas ruas de Caracas não estava o defunto.
Enquanto a equipe médica, vigiada por homens dos órgãos de segurança do regime, preparava o corpo do presidente Hugo Chávez para a visitação pública, um caixão vazio era acompanhado por uma massa de fanáticos periféricos e desavisados de última hora.
O embalsamamento do corpo do caudilho é mais uma das armadilhas do chavismo para se perpetuar no poder e fazer de Chávez um Lenin do século XXI.
Bobagem. Lenin fez uma revolução, que surgiu das bases do proletariado russo e que se transformou numa ditadura violenta.
Chávez construiu uma ditadura violenta sem necessidade de fazer uma revolução popular.
Apenas destruiu a economia da Venezuela ao distribuir dinheiro fácil, às custas da produção de petróleo, à população pobre.
Para o populismo barato de governos dessa parte do hemisfério sul, acabar com a pobreza é distribuir dinheiro dos contribuintes sob a rubrica de bolsa família, ou qualquer outra coisa que o valha.
A hipocrisia do chavismo e de seu fundador, um bufão boquirroto, encontra-se no fato de pregar um discurso contra os Estados Unidos, mas se valer dos dólares americanos com as exportação do óleo que sai dos poços venezuelanos.
Nem mesmo o consumo elitista – baseado nos produtos de luxo de maisons europeias e americanas – escapou dos dirigentes bolivarianos.
Relógios de marca e vestuário grifado podem ser vistos nos pulsos dos "revolucionários" e nos closes das madames bolivarianas.
A cafonalha estampada no vermelho sangue das camisas e jaquetas chavistas é apenas um detalhe da falta de gosto dos tiranos.
Falam disso como pragmatismo chavista, mas que não passa de esperteza dos que sabem manipular os de baixo, mimar os que estão ao redor e fazer média com os de cima.
Apesar disso, com todo esses programas populistas, a Venezuela e Caracas, em particular, apresentam índices altíssimos de violência urbana. Além, é fato consumado, da existência da violência do Estado contra os órgãos de informação e de quem ousar fazer oposição ao regime dos boinas vermelhas.
Com um legislativo faz de conta e um judiciário que se agacha às ordens do chavismo, o regime não conseguiu exterminar a oposição, que chegou bem perto de uma vitória no último pleito.
10 de março de 2013
Nilson Borges Filho é mestre, doutor e pós-doutor em Direito

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