"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de março de 2013

O FUTURO DO CHAVISMO

 

Estigmatizado por uns como líder totalitário por violar as liberdades individuais, subjugar o Legislativo e o Judiciário, deixar a economia devastada pelo populismo e pela incompetência da gerência e exaltado por outros como líder carismático que ampliou a participação popular, democratizou o pais com profundas mudanças na vida politica e econômica, Chávez, não foi nem plenamente democrata, nem plenamente autoritário.

O chavismo, como movimento politico interno, deverá continuar. Chávez — transformado em mito — estará para a Venezuela assim como Perón está para a Argentina: eternamente cultuado, a exploração de sua imagem garantirá a continuidade de uma liderança renovada com nuances e mudanças que a conjuntura determinar.


Chávez defendeu no hemisfério um modelo alternativo de desenvolvimento econômico e político com forte viés antiamericano, criando uma aliança com Equador, Bolívia, Nicarágua, El Salvador no que chamou de Alba (Aliança Bolivariana das Américas).

Não creio que a sombra de Chávez possa ser tão longa como a de Che Guevara ou Fidel. Mesmo que Maduro e o equatoriano Rafael Correa tentem manter viva a chama bolivariana, depois de algum tempo as ideias da Revolução Bolivariana, respaldadas pela força do petrodólar, tenderão a desaparecer.

É incerto o destino dos programas de assistência financeira e de petróleo a preços subsidiados, em especial a Cuba, que recebe mais de US$ 7 bilhões por ano. Não será surpresa uma gradual distensão nas relações com os EUA.Apesar das resistências de setores industriais quando da entrada da Venezuela no Mercosul, não é de se esperar que haja retrocesso no processo de integração com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Os três governos brasileiros (FHC, Lula e Dilma) que tiveram de tratar com Chávez procuraram moderar seu voluntarismo, visando a atrair e não isolar a Venezuela.

O incremento das relações políticas e econômico-comercias do Brasil com a Venezuela, iniciado com FHC, se consolidou por decisão pessoal de Hugo Chávez pelas afinidades ideológicas com Lula e Dilma.

O comércio, os investimentos e, sobretudo, os serviços brasileiros cresceram significativamente durante os anos de Chávez no poder. O portfólio de empresas construtoras brasileiras na Venezuela sobe a cerca de US$ 20 bilhões, o que explica, em larga medida, o apoio de Lula e de Dilma ao projeto de Chávez de se juntar ao Mercosul. O superávit comercial brasileiro é o maior entre nossos parceiros externos.

Chávez foi de fato um grande amigo (ideológico) do Brasil. O sucessor de Chávez deverá manter os compromissos do líder morto. A incógnita reside na incerteza da continuidade dessa ampla cooperação, quando a oposição assumir o poder em uma das futuras eleições.

12 de março de 2013
Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

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