"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de março de 2013

QUANDO O AIPAC TIROU O TIME


          Internacional - Estados Unidos 
       
A famosa declaração proferida em 2008 por Chuck Hagel, sobre o Comitê de Relações Públicas Americano-Israelense (AIPAC), a instituição mais importante do lobby pró Israel, dizia "o lobby judaico intimida muita gente por aqui [no Congresso]. Eu sou um senador dos Estados Unidos. Eu não sou um senador israelense".

Algo estranho então aconteceu: em 7 de janeiro Barack Obama nomeou Hagel para o cargo de Ministro da Defesa, assim que o AIPAC anunciou que não se oporia ao ex-senador republicano de Nebraska. Realmente, tão neutro queria ser nesse delicado tópico que o seu porta-voz evitou até mencionar o nome de Hagel, declarando apenas que o "AIPAC não se posiciona quanto às nomeações presidenciais". O AIPAC manteve completo silêncio durante todo o processo de confirmação de Hagel como Ministro da Defesa, ocorrido em 26 de fevereiro. Mais importante ainda, não levantou um dedo para influenciar a votação.

A lógica inicial do AIPAC faz algum sentido: Obama, que acabara de vencer a reeleição por uma margem significativa, escolheu seu preferido e os republicanos iriam provavelmente lançar apenas uma oposição simbólica, então porque despertar a inimizade de alguém prestes a ser a poderosa personalidade e principal protagonista no relacionamento entre EUA e Israel? Conforme explicava então Steven J. Rosen, "o AIPAC tem que trabalhar com o Ministro da Defesa". Também não queria criar caso com os democratas, cada vez mais volúveis.

Subsequentemente, uma pesquisa frenética no histórico de Hagel levantou mais declarações malévolas sobre Israel. Em 2006 ele se referiu ao direito de Israel de se defender do Hisbolá como uma "matança nauseante". Em 2007 declarou, "O Departamento de Estado tornou-se um apêndice do gabinete do ministro das relações exteriores de Israel". E em 2010 ele foi citado como tendo advertido que Israel estava arriscando se "tornar um estado apartheid".

Não obstante, o senador que se referia a um ameaçador "lobby judaico", obteve livre passagem daquele mesmo lobby. Isso me faz pensar o quanto ameaçador ele realmente é.
Outras organizações pró Israel adotaram uma abordagem diferente. A Organização Sionista da América emitiu, entre 17 de dezembro (exortando Obama a não nomear o "Chuck Hagel, defensor do Irã e do terrorismo e crítico feroz de Israel") e 22 de fevereiro (listando as "dez importantes razões para se opor a Chuck Hagel"),14 declarações se opondo à nomeação de Hagel. Não propriamente uma organização lobista, a ZOA's calculus tem menos a ver com a possibilidade de vencer e mais com tomada de posição moral e de princípios.
Lindsey Graham, senador republicano da Carolina do Sul, comprou a briga.
Em grande parte pelo fato das políticas do Senador de Nebraska, em relação ao Oriente Médio em apaziguar Teerã e confrontar Jerusalém, a oposição republicana se tornou muito mais do que um ato simbólico. Vários senadores indicaram a Morton Klein da ZOA, que se o AIPAC "tivesse se posicionado e articulado contra Hagel, ele seria derrotado". Charles Schumer (Nova Iorque), indubitavelmente o senador democrata mais importante nessa questão, citou publicamente a ausência das "mais influentes organizações judaicas" como a principal razão dele "não ter escrúpulos" em apoiar Hagel. Ainda assim, apesar da real e crescente possibilidade de derrotar a nomeação de Hagel, o AIPAC manteve silêncio e nada fez.

Em 12 de fevereiro Hagel vociferou na Comissão das Forças Armadas do Senado obtendo apoio partidário, de 14 votos a 11. Em 14 de fevereiro a votação, para encerrar o debate sobre a nomeação, não alcançou os 60 votos necessários. Ele finalmente recebeu a confirmação, em uma votação de 58 a 41, perante o maior número de votos contra em relação a qualquer outro Ministro da Defesa (George C. Marshall em 1950 vem em um distante segundo lugar com 11 votos contra). Assim sendo, o ilustre desconhecido que se opôs até às sanções econômicas contra o Irã, o indicado inepto que confundiu prevenção com contenção, o político caracterizado pelo senador Lindsey Graham (republicano da Carolina do Sul) como "o mais hostil Ministro da Defesa em relação ao Estado de Israel da história da nossa nação". Paciência, ele assumiu em 27 de fevereiro.
O enorme Walter E. Washington Convention Center (Centro de Convenções Walter E. Washington), onde acontece a conferência sobre política do AIPAC.
À medida que o AIPAC realiza sua conferência sobre a política anual, de 3 a 5 de março em Washington, por ele chamada de "o maior encontro do movimento pró Israel" (a reunião do ano passado contou com mais de 13.000 participantes), fica difícil não concluir que o louvado lobby pró Israel concentrou-se de maneira tão séria em acesso, processo, boa vontade e civilidade, que acabou se tornando irrelevante no que diz respeito aos problemas mais prementes relativos a Israel, Irã e o relacionamento com os EUA.

Sim, o AIPAC continua a força com que se pode contar em se tratando de questões secundárias, por exemplo, conquistou a impressionante vitória de 100 votos a 0 sobre a administração Obama em dezembro de 2011, em uma votação de sanções contra o Irã. Porém, (desde a batalha sobre os aviões AWACS em 1981) ele zelosamente tem evitado contrariar o presidente em casos amplamente divulgados, justamente os que mais ameaçam Israel. Como resultado, tornou-se irrelevante e teoricamente perdeu o debate sobre a política frente ao Irã.
A era Obama e Hagel necessita do resoluto AIPAC de antigamente.

12 de março de 2013
Daniel Pipes
Publicado no The Washington Times
Original em inglês: When AIPAC Went AWOL
Tradução: Joseph Skilnik

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