A inflação deve estourar o teto da meta nos próximos meses e foi isso que motivou a desoneração da cesta básica. O governo tenta dar um alívio nos preços para evitar a alta dos juros. A inflação dos alimentos está em dois dígitos. Os preços sobem, apesar do PIB estagnado. Mesmo sem a desoneração, a expectativa é de que os alimentos desacelerem ao longo do ano.
Ontem, o Boletim Focus do Banco Central, que coleta previsões de uma centena de instituições financeiras, mostrou aumento na previsão de inflação para o ano, de 5,70% para 5,82%. É reflexo do IPCA de fevereiro, que veio acima do esperado.
Mesmo sendo um mês beneficiado pela redução do preço da energia, e com atrasos nos reajustes das tarifas de ônibus, a taxa ficou em 0,60% e levou o acumulado em 12 meses para 6,31%.
Na semana que vem, as projeções devem cair, incorporando a desoneração da cesta básica, anunciada na sexta-feira à noite, com o mercado já fechado. O ministro da Fazenda teve reuniões com empresários do setor, ontem, para cobrar o repasse. Voltamos ao tempo em que a agenda do ministro é administrar preços.
Para um PIB que cresceu 0,9% em 2012, a inflação tem surpreendido demais, para cima. A taxa tem rodado na parte superior da banda com episódios de estouro do teto. Em setembro de 2011, bateu em 7,31%. Agora, está próximo do limite de 6,5%.
Para um país que tem uma carga tributária altíssima, desonerações são sempre bem-vindas, principalmente em alimentos. Mas, segundo o consultor Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, queda de imposto, em geral, tem efeito temporário na luta contra os preços. Eles caem num primeiro momento, mas logo voltam a subir com a pressão da demanda.
— Inflação é aumento de preço persistente e disseminado. Essas medidas têm efeitos temporários e localizados. É como colocar uma pessoa com febre debaixo do chuveiro. A febre abaixa, mas logo volta se não se der antibióticos — afirmou.
Em fevereiro, a inflação em 12 meses atingiu 8,75% em Belém; 8,31% em Fortaleza; 7,44% em Recife; e 7,05% em Salvador. Já ultrapassou o teto nessas capitais.
A inflação para quem ganha até 5 salários mínimos, medida pelo INPC, está em 6,77%, acima do teto. Chega a 9,24% em Fortaleza e 9,14% em Belém. Aproxima-se dos dois dígitos nessas capitais.
O índice de difusão, que mede o percentual de itens que tiveram elevação de preços, ficou em 72% em fevereiro.
A alta é disseminada, e não está apenas concentrada nos alimentos. Por isso, as desonerações ajudam, mas não resolvem o problema.
A boa notícia é que ao longo do ano se espera queda dos preços dos alimentos. Deve acontecer no mundo todo por causa da recuperação das safras em importantes países produtores, como Estados Unidos e Argentina.
A alta dos alimentos chegará em 13% em março, acumulada em 12 meses, mas depois começará a desacelerar.
Com as desonerações, a redução ficará mais intensa, mas nem toda a diminuição do imposto será repassada ao preço. Os economistas estão prevendo um repasse de no máximo dois terços da diminuição, o resto deve ser absorvido para recomposição de margem. Na projeção do banco ABC Brasil, os alimentos que fechariam o ano com alta de 7,69% agora vão subir 5,55%. Mas isso se houver queda forte dos preços internacionais com as novas safras de grãos.
A resistência da inflação surpreende: já houve queda de IPI para automóveis, itens de linha branca e materiais de construção; corte do preço da energia; mudança de ponderação no cálculo do IPCA; atrasos em reajustes públicos. Ainda assim, ela cai e volta a subir. Por tudo isso, o Focus ontem elevou a previsão da taxa de juros do ano.
12 de março de 2013
Miriam Leitão, O Globo
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