Em que pesem nossas deficiências, em um mundo de dinheiro barato temos fundamentos que explicam uma política monetária
realista. A facilidade de lucro que os juros elevados proporcionam acomodou os
estratos mais abastados da sociedade. Com saudade dos bons tempos, ao menor
sinal de inflação eles se apressam a justificar a elevação das taxas, que, em
cascata, pressionará os spreads ainda pornográficos do
país.
Um segundo aspecto da questão refere-se à lógica hegemônica de
que juros altos são um remédio adequado para evitar a inflação. Como se não
houvesse outras soluções. Inclusive a maior competição no sistema financeiro,
que é um oligopólio estatal-privado de escassos players.
Um terceiro aspecto notável é que o spread
bancário no Brasil continua elevado. Assim, não há por que considerar que o
sistema financeiro esteja em risco por conta da baixa rentabilidade. Aliás, o
sistema financeiro brasileiro vive um paradoxo único: é um dos mais rentáveis do
mundo, sendo um dos mais seguros...
Um quarto aspecto diz respeito à capacidade de o governo agir,
tanto na condição de controlador de mais de 50% do sistema financeiro quanto na
de agente regulador e ente legislador. Nesse ponto, o governo falha por timidez
e incompetência.
O receituário a ser aplicado não é banal, mas não é
desconhecido. E deve ser tentado antes de se aumentar a taxa de juros e fazer a
alegria de rentistas à custa do sacrifício da sociedade e, até mesmo, do
crescimento do país.
Devemos buscar maior competitividade nos setores que pressionam
a inflação. E, até onde é possível, por meio de políticas públicas e ações que
estimulem a vinda de investidores.
O custo Brasil, tão criticado mas tão pouco atacado, também deve
ser objeto de atuação eficiente e célere. Trata-se de um importante componente
da formação dos preços no país. Deve-se manter a oferta de capital. Em especial,
para investimentos produtivos, que ainda precisam ser mais desonerados.
A desoneração do setor produtivo deve prosseguir e atrelar-se a
compromissos de repasse dos benefícios ao consumidor. O governo deve buscar a
maior competitividade no setor financeiro. O exemplo vem do Reino Unido, que
está facilitando a abertura de bancos.
Até mesmo uma nova e ampla renegociação da dívida fiscal, que
penaliza diversos segmentos, poderia vir embutida em um pacote de iniciativas. Enfim, existem outras saídas ao largo da
tradicional transferência de riquezas da sociedade para o sistema financeiro,
que tanto mal ainda causa à população.
Muitos tentam – a qualquer pretexto – voltar aos tempos das
vacas gordíssimas de uns. Mas sociedade e governo não devem ceder à pressão de
uma lógica que não cabe mais em um mundo inundado de dinheiro barato. É triste ver a omissão dos políticos no Congresso sobre a
questão. O custo do dinheiro para a sociedade não é visto como um problema
deles. Deveria ser.
18 de abril de 2013
Murillo de Aragão é cientista político.
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