"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 18 de abril de 2013

JUROS E INFLAÇÃO

 

 
Em que pesem nossas deficiências, em um mundo de dinheiro barato temos fundamentos que explicam uma política monetária realista. A facilidade de lucro que os juros elevados proporcionam acomodou os estratos mais abastados da sociedade. Com saudade dos bons tempos, ao menor sinal de inflação eles se apressam a justificar a elevação das taxas, que, em cascata, pressionará os spreads ainda pornográficos do país.

Um segundo aspecto da questão refere-se à lógica hegemônica de que juros altos são um remédio adequado para evitar a inflação. Como se não houvesse outras soluções. Inclusive a maior competição no sistema financeiro, que é um oligopólio estatal-privado de escassos players.

Um terceiro aspecto notável é que o spread bancário no Brasil continua elevado. Assim, não há por que considerar que o sistema financeiro esteja em risco por conta da baixa rentabilidade. Aliás, o sistema financeiro brasileiro vive um paradoxo único: é um dos mais rentáveis do mundo, sendo um dos mais seguros...

Um quarto aspecto diz respeito à capacidade de o governo agir, tanto na condição de controlador de mais de 50% do sistema financeiro quanto na de agente regulador e ente legislador. Nesse ponto, o governo falha por timidez e incompetência.

O receituário a ser aplicado não é banal, mas não é desconhecido. E deve ser tentado antes de se aumentar a taxa de juros e fazer a alegria de rentistas à custa do sacrifício da sociedade e, até mesmo, do crescimento do país.

Devemos buscar maior competitividade nos setores que pressionam a inflação. E, até onde é possível, por meio de políticas públicas e ações que estimulem a vinda de investidores.

O custo Brasil, tão criticado mas tão pouco atacado, também deve ser objeto de atuação eficiente e célere. Trata-se de um importante componente da formação dos preços no país. Deve-se manter a oferta de capital. Em especial, para investimentos produtivos, que ainda precisam ser mais desonerados.

A desoneração do setor produtivo deve prosseguir e atrelar-se a compromissos de repasse dos benefícios ao consumidor. O governo deve buscar a maior competitividade no setor financeiro. O exemplo vem do Reino Unido, que está facilitando a abertura de bancos.

Até mesmo uma nova e ampla renegociação da dívida fiscal, que penaliza diversos segmentos, poderia vir embutida em um pacote de iniciativas. Enfim, existem outras saídas ao largo da tradicional transferência de riquezas da sociedade para o sistema financeiro, que tanto mal ainda causa à população.

Muitos tentam – a qualquer pretexto – voltar aos tempos das vacas gordíssimas de uns. Mas sociedade e governo não devem ceder à pressão de uma lógica que não cabe mais em um mundo inundado de dinheiro barato. É triste ver a omissão dos políticos no Congresso sobre a questão. O custo do dinheiro para a sociedade não é visto como um problema deles. Deveria ser.

18 de abril de 2013
Murillo de Aragão é cientista político.

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