"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 25 de abril de 2013

"ROLO COMPRESSOR"

 
Olho vivo, porque estão votando restrições ao partido de Marina Silva e duas emendas constitucionais intrigantes. Uma retira o papel de investigação do Ministério Público e outra dá poderes ao Congresso para vetar algumas decisões do Supremo Tribunal Federal!

Quem são "eles", o sujeito oculto da frase --ou os sujeitos mesmo-- no parágrafo anterior? Deduza o que quiser. O fato é que o Congresso, onde o governo, o PT e o PMDB têm imensa maioria, dá corda a projetos que prejudicam adversários ou têm caráter óbvio de retaliação.

Procuradores reagem à mudança no Ministério Público e os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio reagiram duramente à proposta, aprovada na CCJ da Câmara, de submeter ao Legislativo as súmulas vinculantes e as ações de inconstitucionalidade da corte.

Marco Aurélio classificou de "retaliação" e não é exagero, depois do mensalão e da impressão digital do projeto: o autor é o deputado Nazareno Fontes, do PT do Piauí. Só não se sabe se é coisa da cabeça dele ou se ele só deu o nome a uma emenda feita pelo partido ou por partidários. De toda forma, é uma guerra inglória.

Sem oposição e alternância de poder, a democracia esmaece.

Sem a mídia, a sociedade brasileira não ficaria sabendo desde mensalão (revelado pela Folha) a salários de R$ 15 mil de garçons apadrinhados no Senado ("O Globo" de ontem).

Sem os procuradores, o senhor e a senhora não teriam ideia do que ocorre por aí, desde a denúncia do mensalão à mais alta corte até as contas atribuídas a Maluf em paraísos fiscais.

Sem o Supremo, não haveria a condenação de reluzentes mensaleiros do Executivo, do Legislativo e do setor privado, num enredo, aliás, que ainda não está concluído.

O ex-presidente Lula, a presidente Dilma, o PT, principalmente, e o PMDB, acessoriamente, devem ser mais cautelosos e evitar essa sofreguidão contra adversários e críticos. A ideia que fica é de desespero.

25 de abril de 2013
Eliane Cantanhêde, Folha de São Paulo

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