A edição deste fim de semana de Veja revela detalhes de uma sindicância feita por técnicos da Casa Civil da Presidência da República sobre as atividades de Rosemary Noronha no governo. A investigação resultou num relatório de 120 folhas. A pedido da ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, a Controladoria-Geral da República abriu processo administrativo contra a ex-chefe da Presidência em SP.
Durante dois meses, uma comissão especial do governo colheu depoimentos de funcionários, vasculhou mensagens eletrônicas, registros de agenda e listas de visitantes para tentar reconstituir, ao menos em parte. a rotina no gabinete da Presidência da República em São Paulo entre 2009 e 2012.
No ano passado, a Policia Federal descobriu que Rosemary Noronha usava a influência e a intimidade que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder. Ela patrocinou lobbies, agendou encontros com autoridades e ajudou urna quadrilha que vendia pareceres a empresários. Em troca, recebia vantagens e remuneração em dólar, euro, real e até em won, a moeda coreana.
Exonerada do cargo e indiciada por formação de quadrilha, tráfico de influência e corrupção passiva, Rosemary foi alvo de urna sindicância conduzida por técnicos da Presidência. O relatório final da investigação, mantido em segredo por determinação expressa do próprio governo, é a síntese do que para alguns é a norma fria do serviço público em Brasília, uma grande loja de facilidades.(…)Um processo administrativo já foi aberto na Controladoria-Geral da União. Ex-bancária. Rose, como é chamada pelos mais íntimos, foi urna destacada militante do movimento sindical no início da década de 90. Era admirada na categoria pelos belos cabelos longos e por outras peculiaridades do seu biotipo. Seus talentos foram logo notados pelos figurões do PT.
O então deputado José Dirceu, de quem se tornou multo amiga, contratou-a corno secretária de gabinete. Logo depois, promovida, Rose passou a organizar a agenda do candidato Lula, cuidar das suas contas, anotar seus recados, enfim, gerenciar o cotidiano do futuro presidente. E fazia isso com muita competência, segundo pessoas próximas.
No governo petista, ela continuou cuidando do dia a dia do presidente, principalmente quando havia viagens internacionais. Por determinação do cerimonial do Palácio do Planalto, era autorizada a se engajar na comitiva sempre que Marisa, a esposa de Lula, não podia acompanhar o marido. Sem uma função definida, Rose ficava hospedada no mesmo hotel do presidente, de prontidão para ser acionada em caso de necessidade.(…)Mensagens inéditas reunidas no relatório da investigação mostram que a ex-secretária foi recebida com honras de chefe de estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis Ihe foram disponibilizadas. Rose temia ter problemas corn a
irnigração no desembarque em Roma. O embaixador José Viegas enviou-lhe urna carta oficial que poderla ser apresentada em caso de algum imprevisto. Rose não conhecia a liália.
O embaixador colocou o motorista oficial à sua disposição. Rose não tinha hotel. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili — e ela não ocuparia um quarto qualquer. Na mensagem, o embaixador brasileiro saudou a ida de Rose com um benvenutti!, em seguida desejou-lhe buon viaggio e avisou que ela ficaria hospedada com o marido no “quarto vermelho”. Quarto vermelho?!
Como o Itamaraty desconhece esse tipo de denominação, acredita-se que “quarto vermelho” fosse um código para identificar os aposentos relacionados ao chefe — assim como normalmente se diz ‘telefone vermelho”, “botão vermelho”, “sala vermelha”…
Independentemente disso, com a ajuda da Controladoria-Geral da União, a investigação da Casa Civil confirmou que a ex-chefe de gabinete não eslava a trabalho em Roma. Por isso, considerou que a estada nas dependências diplomáticas configurou mais um caso de apropriação particular do patrimônio público e recomendou que o Itamaraty apurasse o episódio.
25 de abril de 2013Indagado, o embaixador José Viegas, que deixou o posto em 2012, disse que não podia discriminar quem chega com dinheiro público ou privado” à embaixada. Em tese, portanto, qualquer mortal de passagem por Roma está autorizado a pernoitar uns dias na embaixada. Sobre o tal “quarto vermelho”, garantiu que se trata de um cômodo secundário.
Íntegra da matéria, na Veja
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