Em qualquer atividade e para qualquer um, perder uma oportunidade é deixar passar uma chance que poderia ser única.
Na política isso pode ser fatal. Situação, oposição e até os que não têm cheiro tentam se aproveitar ao máximo quando elas surgem. Absolutamente legítimo.
Mas, não raro, oportunidades acabam por irrigar canteiros de oportunistas - gente que rouba, que vende voto, que leiloa o mandato. E de oportunistas ideológicos - aqueles que em público xingam o demônio e que entre quatro paredes com ele se confraternizam.
O discurso do presidente do PT deputado Rui Falcão, na quinta-feira, em Curitiba, em mais uma comemoração pelos 10 anos de invenção do Brasil, é um exemplo acabado disso. “São quatro grandes monopólios ou oligopólios que urge desmontar: o monopólio do dinheiro, controlado pelo capital financeiro; o monopólio da terra, em mãos dos latifundiários que se opõem à reforma agrária; o monopólio do voto, garantido pelo financiamento privado e o poder econômico; e o monopólio da opinião e da informação, dominado pelos barões da mídia”, disparou Falcão.
Uma fala inflamada para alegrar a militância e fazer bonito frente ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff, estrelas maiores do encontro.
Nela, ele xinga os demônios, cospe no prato em que come e esconde os conchavos que há anos sustentam o PT.
Que monopólio do dinheiro? O que está concentrado nas mãos de empreiteiros – os mesmos para os quais Lula tem sido garoto propaganda? Dos banqueiros aliados que lucram ano a ano e ainda fazem transações espúrias com o partido, como o BMG do mensalão?
O monopólio da terra abriga o agronegócio, setor que cresceu 9,7%, evitando o completo desastre do já tão magro PIB de 0,6% do primeiro trimestre. É com esse oligopólio do capeta, e com a representante dele – senadora Kátia Abreu (PSD-TO) –, que Dilma conta.
O monopólio do voto? O maldito dinheiro privado que abarrota o caixa oficial e o caixa 2 confesso das campanhas do PT, as mais caras desde 2004, ano da primeira eleição depois que Lula chegou ao poder?
Por fim, os barões da mídia. Como se o incômodo fosse com os donos da mídia, com quem governos sempre se compõem. A pedra no sapato é o jornalismo - classificado por Dilma como “terrorismo informativo” - e os jornalistas, “vendedores” ou “profetas do caos”. Gente que ousa relatar que a inflação bateu no teto da meta, que mostra erros de gestão, gastos a rodo, obras de infraestrutura caras e em passo de tartaruga; desacertos e improvisações na política econômica e fiscal.
O problema são esses diabos que não batem ponto e não estão à venda.
16 de junho de 2013
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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