A respeito dos protestos desencadeados em várias capitais brasileiras contra o aumento das tarifas do transporte público, um aspecto é objetivo: a depredação do patrimônio público é inaceitável.
Mas os movimentos têm algo a ensinar.
É freqüente a manifestação de administradores, governadores e prefeitos, que avaliam, políticos que são, que o movimentos têm inspiração política, o que é óbvio, se adotamos o sentido do conceito geral de atividade política. Mas, dentro da acepção mais estreita que visivelmente desejam transmitir, não especificam objetivos ou lideranças, se indivíduos, partidos ou sindicatos.
Trata-se de uma fuga, pois se esquecem de mencionar o descaso com que é conduzida por eles, e o foi pelos anteriores, nas três esferas de governo, a prestação de serviços essenciais como transporte urbano digno, saúde publica que não seja genocida, educação que promova a qualidade intelectual dos jovens e segurança que garanta o direito de ir e vir, aos quais a população tem direito como contrapartida pelos pesados impostos que paga.
As mobilizações constituem em grande parte um grito desesperado de alerta para que os governos se dediquem menos a campanhas eleitorais exageradamente antecipadas e a arranjos políticos e populistas indecentemente pragmáticos visando tão somente à manutenção ou tomada do poder e passem a se concentrar com mais afinco em problemas diretamente relacionados com o real interesse público, em nome do qual, aliás, foram eleitos.
Com o aumento de velocidade e eficiência espetaculares dos meios de comunicação, turbinados pelas redes sociais, o grande propulsor de manifestações semelhantes mundo afora, verifica-se nelas a ausência de líderes específicos, dando a entender, pelo menos nos estágios iniciais, que não há com quem negociar, pois as mobilizações não têm assinatura nem estribo ideológico.
Tal mudança talvez ainda não tenha sido bem entendida pelos nossos atuais governantes, muitos deles formados a partir de situações de protestos semelhantes e às vezes até de ações guerrilheiras, de que participaram quando jovens, essas sim de inspiração político-ideológica, dentro do conceito que querem transmitir nos seus discursos de hoje, mas montadas em outras circunstâncias, quando nem se sonhava com as que vigoram hoje. Urge, antes que seja tarde demais, que percebam a necessidade de uma mudança de atitude, com mais transparência e honestidade, para tratar dos problemas que aí estão e de outros que se avizinham.
É provável que não tenham ainda entendido que os tempos são outros.
16 de junho de 2013
Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-Mar-e-Guerra Reformado
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