As manifestações populares ocuparam o cenário do país na noite de quinta-feira, abrangendo, como assinalou O Globo, oitenta cidades, com destaque natural para Rio, São Paulo e Brasília. Mas em vez de expressar a voz livre do povo nas ruas, clamando por mudanças, terminaram fortemente prejudicadas pela ação absurda e criminosa de vândalos que praticaram depredações, provocações, violências e saques a lojas comerciais e agências bancárias: desfocaram a participação popular na luta pela liberdade, pela ética, por um país melhor, fatores portanto democráticos, lançando, propositadamente o movimento pacífico no campo da ameaça.
No centro do Rio, o que seria uma caminhada monumental pela Avenida Presidente Vargas foi reduzida porque centenas de milhares de pessoas que lotavam o percurso até a Prefeitura afastar-se quando souberam o que estava ocorrendo em frente à administração municipal. Em São Paulo, a manifestação foi pacífica, porém em Brasília a inconcebível tentativa de invadir o Itamarati e o cerco ao Palácio do Planalto passaram ocupar as redes de televisão. E certamente influíram na repetição de ataques e confrontos em uma série de outras cidades. Difícil, talvez impossível, aos manifestantes, imensa maioria, que defendem o protesto pacífico podem conter ou expulsar os vândalos alucinados. Até porque, no caso do Rio, como observou minha mulher, os vândalos depredadores se antecederam à chegada da passeata à Prefeitura.
Antecederam de muito e começaram a atacar o prédio, provocar os policiais, tentaram derrubar portas e invadir. Eles planejaram, portanto suas ações. A prova é que se encontram nos arredores e em momento algum caminharam com a multidão. Tinham um projeto definido de tumultuar, agredir, destruir. Como praticaram ao incendiar cabines da Polícia Militar, carro do SBT, além de quebrar automóveis particulares. Desalojaram a vitória total do povo das telas de televisão, das páginas da Internet, da primeira página dos jornais do dia seguinte, sexta-feira. Destaquei a Internet com as redes sociais que proporciona porque, dois dias antes, pesquisa do Datafolha publicada na Folha de São Paulo apontou a influência decisiva da comunicação eletrônica na arregimentação popular. E acentuou a presença da Internet e da imprensa em geral como os veículos mais influentes.
INTERNET
Perfeito. A percentagem da opinião pública que apontou a Internet passou de 70%. Refletiu uma realidade cada vez mais presente, não só em nosso país, mas em todo o mundo. Antes de seu funcionamento, ampliação e absoluta consolidação, de um lado ficávamos, todos nós, receptores, de outro os transmissores. Agora não. Cada computador passou a ser também um transmissor. Um transmissor tanto coletivo quanto pessoal. Daí sua força para arregimentar multidões. As mensagens são personalizadas, o que torna o apelo mais intenso.
Mas nem assim as comunicações voltadas para as manifestações pacíficas conseguiram conter a minoria, insignificante em número, mas de grande capacidade e destruição de agir para levar ao tumulto geral e, em consequência, ao pânico. Justificado, aliás, porque os jovens e pessoas de todas as idades que se dispuseram a caminhar pelas avenidas e ruas da liberdade partiram para uma afirmação democrática, não para comprometer a ordem pública e, em vários casos, saquear.
Os vândalos depredadores, entretanto, não mudaram a realidade e a intensidade da voz do povo. Ele exigiu – exige – o compromisso ético, social, econômico e político por parte dos que governam o país. Os governantes, enfim, agora, precisam falar e responder à pressão legítima da onda de protestos que surgiu.23 de junho de 2013
Pedro do Coutto
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