"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 18 de julho de 2013

FRACASSO ANUNCIADO

Serra e o velho de Voltaire
"Não pode o homem ter mais que certo número de dentes, cabelos e ideias. Tempo vem em que inevitavelmente perde os dentes, os cabelos e as ideias". (Voltaire)

Na mais próspera e estável democracia da história moderna, quem perde uma eleição presidencial entende o recado: segue na vida partidária, como congressista, mas abre mão do sonho pessoal de residir no número 1600 da Pennsylvania Avenue.

Foi o que fizeram George McGovern, Walter Mondale e Michael Dukakis. Tradição também seguida por Bob Dole, Al Gore, John Kerry e John McCain. Espera-se o mesmo de Mitt Romney.

Para além da intenção genuína de querer ver o partido chegar ao poder – ou nele manter-se –, o sujeito entende o recado das urnas de primeira também - e, talvez, principalmente- para evitar um desgaste pessoal: não há espaço, na democracia americana, para presidenciáveis profissionais. Ross Perot, o milionário excêntrico que concorreu como independente, tornou-se motivo de piada entre os eleitores em 1996, quando insistiu – na primeira, em 1992, até respeitaram sua intenção.

Por aqui, não. Claro que não. Por aqui há uma espécie de caudilhismo eleitoral, com perdedores querendo eternizar-se na cédula para todo o sempre, na esperança de que, mesmo eles sendo os mesmos, o povo um dia mude de ideia. Não dá pra dizer que é uma jabuticaba – a coisa se repete em recantos latino-americanos. Mas aqui é moda desde os primórdios da República.

Ruy Barbosa insistiu em 1910 e 1919 – nunca levou.  O mesmo destino tiveram Eduardo Gomes e Ademar de Barros. Com o fim do regime militar, a lista de insistentes fracassados incluiu Leonel Brizola, Enéas Carneiro, Ciro Gomes e José Serra. Salvo engano, a tática de vencer o eleitor pela insistência só deu certo três vezes: com Prudente de Moraes, que tentou em 1891 e levou em 1894, Afonso Pena, que tentou em 1894 e levou em 1906, e com Lula – o único a tentar por quatro vezes.

Nos Estados Unidos da América espera-se que um político preparado a ponto de candidatar-se presidente, após ter sido rejeitado pelas urnas, use sua imensa capacidade a serviço do país – no partido, no Congresso, em alguma entidade ou instituto. O que não se aceita é que ele se torne um desocupado a perambular pela nação, tentando derrubar seus prováveis sucessores.  Eu diria que é o pragmatismo yankee estimulando a vergonha na cara.

Por aqui, não. Por aqui José Serra tenta forçar seu terceiro fracasso sem que ninguém – imprensa, partido, assessores ou pessoas próximas – consiga lhe convencer do ridículo da situação.  

Como o velho de Voltaire que abre este post, o que vemos agora é um José Serra sem cabelos, sem dentes e sem ideias, a se arrastar pelos corredores do poder, tentando convencer a si e aos tolos de que tem o carisma de um Lula -  e que vai emplacar na terceira vez. O partido que se dane. O país idem. 
 
18 de julho de 2013
in nariz gelado

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