“Ser prefeito do Rio é a melhor coisa do mundo”, repetia Eduardo Paes enquanto lidava apenas com as ondas do Atlântico e multidões dispostas a aplaudir até o pôr-do-sol no Leblon.
Começou a desconfiar que o emprego não é lá essas coisas quando foi confrontado com a onda de descontentamento que apressou a redescoberta da rua por multidões indignadas.
“Com a sequência de eventos de grande porte, o Rio vai viver um período de sonho”, festejava de meia em meia hora o anfitrião da final da Copa das Confederações, da Jornada
Mundial da Juventude, do papa, da final da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.
O sonho começou a esfumaçar-se quando se viu obrigado a fugir da vaia no Maracanã. Virou pesadelo com a notícia de que milhares de moradores da Cidade Maravilhosa estão prontos para dizer ao papa, aos berros, o que acham de políticos como Eduardo Paes.
Surtos de medo soltam a língua e estimulam a inventividade, informa o comportamento do prefeito às vésperas da chegada do chefe da Igreja Católica. Primeiro, Eduardo Paes fez de conta que o alvo dos manifestantes era o argentino Francisco: “O papa não tem culpa nos 20 centavos, na eventual corrupção dos políticos, no fato de os deputados trabalharem ou não”, recitou. “O papa é representante de fé e deve nos unir”.
“Não é meu papel censurar ou impedir manifestações”, ressalvou, “mas acho que o papa não tem relação direta nenhuma com os pecados dos governantes brasileiros ─ a não ser perdoá-los quando há confissão”.
Foi então que ocorreu a Paes a ideia de aproveitar a visita do Santo Padre para promover a maior conversão coletiva de pecadores irrecuperáveis registrada desde o Dia da Criação: “O bom é que as autoridades brasileiras se confessem com o papa Francisco e deixem de cometer os seus pecados. A presença dele pode ajudar neste sentido”.
Se a maluquice nascida na cabeça de Paes vingasse, constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA (assista o vídeo abaixo), Francisco teria de ficar algumas semanas por aqui, enfurnado o tempo todo num confessionário e ouvindo histórias de que até Deus duvida.
Terminada a maratona assustadora, voltaria para Roma com a sensação de que visitou não um país, mas um acampamento de bandidos instalado onde até janeiro de 2003 ficava o Brasil.
18 de julho de 2013
augusto nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário