"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 7 de julho de 2013

SEGUNDO SEMESTRE COMEÇA SEM FORÇA PARA REVERTER FRACA ATIVIDADE ECONÔMICA

Economistas estimam crescimento anual de 2%, juros perto de dois dígitos e inflação chegando a 6%


Pela planilha dos economistas, o segundo semestre começou sem força para reverter a fraca atividade econômica observada até o fim de junho. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do ano está mais próxima de 2% do que de 3%, como deseja o governo.
 
Para a inflação, o dado anual também não é animador: os preços devem subir em torno de 6%, bem acima do centro da meta do Banco Central, de 4,5%. E os juros básicos da economia (Taxa Selic), que pela primeira vez na história recente do país estão abaixo dos 10%, estará mais próximo do patamar de dois dígitos.
 
Na prática, esses números indicam que a renda dos brasileiros será corroída pela inflação. Ao mesmo tempo, os juros mais altos forçarão a desaceleração do consumo. E, com perspectivas menos otimistas para o PIB, a confiança do empresário para investir é minada. Ou seja, enquanto Brasília ainda acredita numa aceleração da economia de agora até o fim do ano, os analistas preveem um caminho contrário: de desaceleração até dezembro, o que pode levar o PIB para um patamar abaixo de 2%.
 
— Os principais obstáculos de risco ao país são a inflação e seus impactos diretos na confiança do consumidor e, consequentemente, no volume consumido — explica Octávio de Barros, economista chefe do Bradesco.
 
Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria, concorda que os altos índices inflacionários são o principal problema brasileiro. Além de corroer a renda do cidadão, a inflação obriga o governo a elevar o juro com mais força para reverter as expectativas de alta de preços.
 
— Juros mais altos travam os investimentos, que são um dos motores do crescimento econômico. Se o país crescer 2% este ano, já estará de bom tamanho, mas já há apostas apontando para um PIB abaixo de 2% — completa Jensen.
 
Os especialistas acreditam que a economia brasileira tenha se expandido entre 1,9% e 2,2% no primeiro semestre. Este crescimento ainda pode ser atribuído ao consumo das famílias, estimulado pelos incentivos dados pelo governo, como redução de impostos para carros, móveis e outros bens. Outra parte veio do investimento privado. Tome o setor de caminhões como exemplo: as vendas cresceram 22% em junho deste ano frente ao mesmo período do ano anterior, puxadas pelo bom desempenho da agricultura e da construção.
 
— Agora, esses incentivos estão esgotados. As famílias estão mais endividadas e, com alta da inflação, devem consumir menos. Os bancos privados também puseram o pé no freio para conceder créditos novos. Com perspetivas ruins para o crescimento da economia, o empresário também retrai o investimento — diz o estrategista chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno.
 
No capítulo da inflação, há um complicador a mais: o dólar. Desde janeiro, a moeda americana se valorizou mais de 9% frente ao real. Nesta situação, preços de matérias-primas e produtos importados ficam mais altos. Esse aumento bate direto nos índices inflacionários.
 
O IPCA de junho, a inflação oficial medida pelo governo, desacelerou para 0,26% em junho. Mas em 12 meses, acumula alta de 6,70%, acima do teto de 6,5% estabelecido pelo Banco Central. E a escalada do dólar é um fenômeno global. Apesar dos esforços do Banco Central e do governo para atrair mais dólares ao país, o que aliviaria a pressão sobre a divisa americana, este empenho não tem dado resultado.
 
— O dólar se valoriza no mundo com a recuperação da economia americana. Desta forma, o fluxo de recursos que vinha para países emergentes tende a se direcionar para os EUA. A sinalização do BC americano de que pode reduzir os estímulos à economia, já que todo mês coloca mais US$ 85 bilhões em circulação, também pressiona a alta do dólar. No futuro, certamente a taxa de juro americana terá que subir para evitar a inflação. E isso já está fazendo os investidores retirarem seus dólares de países emergentes, como o Brasil — analisa Daniel Cunha, economista chefe da XP Investimentos.
 
07 de julho de 2013
JOÃO SORIMA NETO E ROBERTA SCRIVAN - O Globo

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