A resposta da presidente Dilma às manifestações parece ter sido anunciada primeiro e pensada depois. A propósito, ainda estão pensando e dispensando ideias.
Já foi dispensada, no sentido de abandonada, a ideia da Constituinte exclusiva e, agora, a proposta de um plebiscito está pendurada no abismo do disse não disse do governo. Sobre os R$ 50 bilhões, nada se sabe.
Uma das propostas anunciadas pela presidente foi um aumento de investimento no valor de R$ 50 bilhões. Perguntei ao ministro da Fazenda sobre esse dinheiro, de onde ele sairia e em que seria investido. Ele disse que em mobilidade urbana, mas explicou que são projetos de metrô ou outros meios de transportes que serão feitos no futuro. “Projetos que serão trabalhados para que eles possam acontecer.”
As ideias ou estão vagas ou foram deixadas de lado. Isso mostra o governo confuso, sem capacidade de reação ao que achava que nunca aconteceria. Ele construiu um mundo de fantasia para a propaganda política e, vê-se agora, acreditou nele. O mínimo que se esperava é que, diante do inesperado e da gravidade da situação, a presidente fizesse consultas. Se não pode, por já ter antecipado o calendário eleitoral, consultar a oposição, que ouvisse integrantes dos outros poderes sobre a viabilidade das ideias antes de lançá-las como resposta oficial.
A época de manifestações de rua também tem dois tempos. O primeiro foi espontâneo, sem líderes realmente influentes, antipartidário. Foi um desabafo, uma reclamação generalizada contra a ineficiência administrativa de governantes de níveis diferentes e de vários partidos. Claro que o peso maior da reclamação cai sobre quem tem mais poder, a presidente, mas era um aviso aos políticos de que há muita insatisfação.
A segunda etapa das manifestações pode ser de quem pegou carona na onda. De um lado, o movimento dos caminhoneiros com indícios de lockouts (greve de patrões), com prejuízo visíveis para toda a população, e agora está se preparando para entrar em cena o movimento sindical tradicional.
Esse o governo conhece bem, não o teme porque, de uma forma ou de outra, o controla. Ou porque são sindicatos e centrais amigas ou porque são de uma forma ou de outra dependentes de dinheiro público.
Sua pauta é conhecida e estava na gaveta à espera de uma boa oportunidade. Por isso, o presidente do PT, Rui Falcão, já se animou a chamar a militância para participar da manifestação proposta pelos sindicatos.
Os dois movimentos têm natureza bem diferente. Um defende interesses difusos e, se atendidos, melhoram a vida de todos, ainda que haja bandeiras equivocadas ou dispersas. O outro sabe o que quer: é partidário e quer garantias para quem já está incluído no sistema de benefícios do governo.
Se a resposta do Executivo parece não ter sido precedida de qualquer planejamento, a do Legislativo guarda distância entre os atos aprovados e as atitudes dos presidentes das duas Casas. Corrupção passa a ser crime hediondo e funcionário público tem que ter ficha limpa.
Ao mesmo tempo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, faz um avião da alegria para levar a família para assistir à final da Copa das Confederações. Descoberto pela imprensa, decidiu pagar. Não fosse descoberto, não pagaria. E o preço que ele estabeleceu deve ser recorde em fretamento de avião para passeio com familiares. Nada mais barato.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, acha que tem poderes para requisitar avião da FAB para ir ao casamento da filha de um colega senador. E ainda arrota que tem esse poder. Será que eles não entenderam nada?
A marquetagem que domina as respostas do executivo está convencida de que a presidente vai dar a volta por cima, assim como o ex-presidente Lula após a queda da popularidade com a denúncia do mensalão, em 2005. Dois indicadores ajudaram Lula em 2006: a inflação do ano foi de 3,14%, e o PIB cresceu 4%.
Nem tudo é economia, mas com o país crescendo e a inflação baixa é mais fácil recuperar a popularidade. De qualquer maneira, seria bom que, ao final de três semanas batendo cabeça, o governo Dilma dissesse como pretende resolver alguns problemas que angustiam a população.
Não existem soluções milagrosas, mas é preciso pelo menos dar um horizonte para a esperança de que vão melhorar.
07 de julho de 2013
Míriam Leitão, O Globo
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