Ganho a longo prazo compensa, enquanto correção aplicada pela Caixa no fundo perde até da inflação
O investidor que tem parte de seu FGTS investido em fundos de ações da Vale e da Petrobras está assustado com o desempenho das ações das duas empresas este ano. De janeiro até agora, a Vale perdeu mais de 30% enquanto os papéis da Petrobras se desvalorizaram cerca de 18%. Com o tombo de ontem, de 84% no lucro da Vale no trimestre, o investidor pode ter um motivo a mais para se preocupar. Analistas ouvidos pelo GLOBO afirmam que, mesmo com as perdas deste e dos últimos anos apresentadas por estes papéis, deixar os recursos aplicados em ações da Vale e Petrobras é melhor negócio do que fazer o dinheiro retornar para a conta do FGTS.
— Mesmo com a desvalorização das ações da Vale e Petrobras o melhor é deixar aplicado nestes fundos. As ações estão caindo agora, mas o trabalhador continua tendo ganhos muitos expressivos com elas. Esses papéis valiam pouco mais de R$ 3 na data da compra, há mais de uma década. As ações da Vale estão agora em R$ 28 e as da Petrobras valem R$ 16. Ou seja, houve ganhos expressivos no longo prazo, que é o período recomendado para aplicações em renda variável — explica o educador financeiro da Academia do Dinheiro, Mauro Calil.
Na ponta do lápis, quem tinha R$ 10 mil em seu FGTS em 2002 e não mexeu nesse dinheiro (não fez saques e a conta não recebeu novos depósitos) possui exatos R$ 16.278,88 atualmente, segundo cálculo de Mário Avelino, presidente do Instituto FGTS/Fácil. A correção atual é de 3% de juros mais a Taxa Referencial (TR), que nos últimos meses ficou zerada.
Se os mesmos R$ 10 mil fossem corrigidos no mesmo período pela inflação oficial, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), esse mesmo trabalhador teria em mãos R$ 25.570,05.
— Só a diferença entre o que rendeu o FGTS e a inflação do período dá uma perda de R$ 9.291,17 no patrimônio desse trabalhador — diz Avelino.
Já aqueles que optaram por aplicar os mesmos R$ 10 mil em fundos de ações da Vale têm hoje nada menos que R$ 93.200, enquanto nos fundos FGTS/Petrobras os mesmos R$ 10 mil se transformaram em R$ 33.000.
Ingerência política preocupa investidores
Analistas dizem que a queda no preço das commodities, as incertezas com o crescimento da economia chinesa e a ingerência política do governo na Petrobras prejudicaram o desempenho das ações dessas empresas nos últimos anos. Em maio de 2008, por exemplo, antes da crise financeira mundial, as ações preferenciais da Petrobras valiam R$ 46,87, enquanto os papéis ordinários da Petrobras estavam cotados a R$ 43,66. Ou seja, os ganhos com esses papéis nesse período chegaram a mais de 1.000% há cinco anos, para quem aplicou parte do dinheiro nos fundos de FGTS há uma década.
— O FGTS é uma poupança compulsória, não um investimento. Sua rentabilidade é metade do rendimento da caderneta de poupança antiga e fica abaixo inclusive da inflação — diz o professor de Finanças do Insper, Michael Viriato.
Entre outras situações, o FGTS pode ser sacado em caso de desemprego, demissão sem justa causa, aposentadoria ou compra da casa própria.
Para Mauro Calil vale a pena inclusive usar o dinheiro do FGTS para comprar um imóvel pequeno e vendê-lo em seguida. Mesmo que a pessoa continue morando de aluguel.
— Os custos de 6% da corretagem do imóvel e de cerca de 15% dos registros em cartório são recuperados em dois anos com o dinheiro da venda aplicado em renda fixa, sejam Letras de Crédito Imobiliário (LCI) ou mesmo nos títulos do Tesouro Direto. E o retorno desses produtos supera substancialmente os 3% de juro ao ano mais a TR oferecidos pelo FGTS — diz Calil.
O gerente de sistemas Paulo Roberto Ferreira, de 52 anos, morador do Rio de Janeiro, já utilizou seus recursos do FGTS para comprar imóveis. Há mais de 20 anos comprou um apartamento na Ilha do Governador. Vendeu e agora possui um casa maior em Jacarepaguá.
— Na compra da casa, usei os recursos que obtive com a venda do apartamento, mais o FGTS e financiei uma parte. A cada dois anos, uso os recursos do FGTS para abater até 80% de 12 prestações da casa. Fujo do baixo rendimento oferecido pelo FGTS e mantenho meu orçamento — diz ele.
08 de agosto de 2013
João Sorima Neto - O Globo
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