De saída do PT, Domingos Dutra afirma que Dilma ‘paga o pato’ pelas escolhas de Lula
Deputado federal quer se filiar à Rede e disputar o Senado em 2014
O deputado Domingos Dutra (PT-MA) fez um discurso emocionado na 2ª feira (5.ago.2013) em Milagres do Maranhão, interior do Estado, no qual deixou claro para todos os petistas que o ouviam: ele deixará a legenda que ajudou a fundar, há 33 anos, para se filiar à Rede, de Marina Silva.
O motivo do rompimento é a aliança do PT com o senador José Sarney (PMDB-AL). O deputado, que chegou a fazer greve de fome em 2010 contra o apoio do PT à reeleição de Roseana Sarney, cansou de defender que seu partido não se junte ao clã que domina a política maranhense há décadas.
Em entrevista ao Blog, ele afirma que Lula desperdiçou a chance de usar sua popularidade para “oxigenar a política”. Para Dutra, o ex-presidente preferiu dar razão a “gente ordinária, que está aí há séculos”, e hoje a presidente Dilma “paga o pato” por essa escolha, virando alvo de protestos que pedem renovação na política.
O deputado avalia que é mais fácil o PMDB abandonar o PT, caso Dilma não se reeleja presidente, do que o PT “se desgrudar” de Sarney. “2014 está chegando e o PT continua no curral do Sarney”, afirma.
Leia trechos da entrevista a seguir:
Por que o senhor decidiu sair do PT?
Em 2010, o diretório estadual do PT definiu, contrariando a vontade do diretório nacional e pressões do governo do Estado, uma aliança com o PC do B para o governo do Estado, apoiando o Flávio Dino, que era deputado federal. O PC do B é aliado do PT desde a primeira eleição, em 1989.
Nosso encontro foi em março e de março até junho o senador [José] Sarney ficou pressionando o presidente Lula. Ao final, Lula determinou que o diretório nacional fizesse intervenção no diretório [estadual] do Maranhão. E entregou o partido para o Sarney. Eu fiz greve de fome durante 10 dias.
No final da grave de fome, nós fizemos um acordo e nesse acordo o diretório nacional nos liberou para fazer campanha a favor do Flavio. Só que está chegando 2014 e o PT do Maranhão continua no curral do Sarney. Diante dessa situação, eu não posso continuar no partido. A não ser que o PT do Maranhão saia do curral do Sarney.
Há chances de o PT romper com Sarney?
Acho muito difícil. Eu não acho que o PT vá sair, mas é possível o PT ser expulso pelo PMDB do Maranhão, do Sarney, caso a presidente Dilma não melhore sua popularidade e o presidente Lula não puder ser candidato. Se o PT não tiver um candidato competitivo, o PMDB larga o governo e vai se juntar com o Aécio [Neves]. Aí acho que eles expulsam o PT e se agregam ao PSDB.
Nessa hipótese, o sr. permaneceria no PT?
Se o PT se desgrudar do Sarney, eu reavalio a minha saída. Apesar de todos os problemas nacionais que o partido tem, eu acho que ainda dá pra disputar o PT ainda. Agora, em nível local é impossível, porque não dá para conciliar.
Qual é sua relação com a Rede, de Marina Silva?
Estou desde fevereiro de 2013 ajudando a fundar o Rede. Como tem a fidelidade partidária, eu só posso me desfiliar do PT na hora que tiver um outro partido sendo legalizado no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]. Fundou o partido, eu tenho 30 dias para sair de um e entrar no outro. Estou no processo de formação da Rede e numa contagem regressiva para me desfiliar do PT.
Além do sr., mais alguém do PT no Maranhão pretende ser filiar à Rede?
Tem vários militantes. Mas eu não estou fazendo campanha para grandes militantes saírem do PT e irem para a Rede. Primeiro, tem que legalizar o partido, para depois… Agora, eu acho que legalizando, vai sair muita gente. O [deputado estadual] Bira do Pindaré está discutindo.
Nesta semana, o sr. fez um discurso emocionado em Milagres do Maranhão anunciando a sua saída do PT. Como seus companheiros de partido reagiram?
Muitos não querem que eu saia, e nessas reuniões que eu estou fazendo com o Flávio Dino, chamadas “Diálogos”, juntam muitos petistas. Então eu aproveitei para explicar por que estou saindo. É evidente que isso emociona, ninguém rompe 33 anos de história de forma fria.
Eu não tenho histórico [familiar] de político, eu venho de baixo, sou filho de camponeses, minha mãe era quebradora de coco, meu pai era lavrador, nasci num quilombo, estou no PT desde 80, nós abrimos a picada.
Cheguei até aqui, nunca me envolvi com corrupção, nunca peguei um tostão de empresários pra fazer campanha, sempre faço minhas campanhas a pé, demos o melhor da nossa vida pelo PT e pela liderança do presidente Lula, então é evidente que isso emociona. Então, talvez pela emoção do anúncio, deu essa repercussão.
O projeto do PT se esgotou?
Eu acho que tem muita gente boa no PT, tem lideranças extraordinárias. O governo fez muita coisa boa, tanto o presidente Lula como a presidente Dilma. O erro foi na política porque, ao invés de oxigenar a política, o presidente Lula deu muita razão pra gente ordinária, pra política tradicional, que está aí há séculos. Por isso que está pagando o pato hoje. A presidente Dilma está pagando esse preço alto porque o presidente Lula teve a chance, com a sua popularidade, de oxigenar a política, e não oxigenou. Preferiu figuras como o Sarney, o [Fernando] Collor, Jader [Barbalho], e assim por diante.
O sr. vai se candidatar a qual cargo em 2014?
Como eu estou saindo do PT e a Rede ainda não existe, estou colocando meu nome como pré-candidato a senador. Se a Rede surgir, é pela Rede. Eu estou em segundo lugar nas últimas pesquisas, o campeão é o candidato do governo, que pode ser o [ministro das Minas e Energia] Edison Lobão [PMDB]. Mas, sem estrutura nenhuma, eu estou em segundo lugar.
08 de agosto de 2013
Fernando Rodrigues - UOL
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