"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 20 de junho de 2012

MENTIRAS SINCERAS ME INTERESSAM

Capivaras que me perdoem a sinceridade, mas a capacidade de se estabelecer juízos de valor, de sequer considerar se a natureza deve ser preservada ou não é uma capacidade especificamente humana.

Eu sinceramente gostaria de saber, mas confesso que não sei. Eu não sei o que se passa na cabeça dos nossos amigos ambientalistas. Se alguém souber, por favor, enviar mensagem para. Agradecido.
Segundo os ilustres filhos de Gepeto, o homem (branco, heterossexual, católico e, de preferência, norte-americano) é responsável direto por um fenômeno tremendo chamado aquecimento global. Todo mundo já ouviu falar dele. As pessoas sentem hoje os calores que os mais lúgubres dos futurólogos preveem para daqui a cinqüenta anos.
Tal aquecimento, por sua vez, é efeito da degradação ilimitada e irresponsável que nós, homens, nós, capitalistas, nós, ocidentais, nós todos, enfim, que não somos ambientalistas e não dirigimos ONG's nem captamos recursos públicos e privados provocamos irremediavelmente à natureza. De maneira geral, o coro é bastante pessimista: o fenômeno é irreversível; resta-nos não acelerar as coisas. O mundo caminha, a passos largos, para o fim.

O mais animados com a desgraça – como não poderia deixar de ser – têm a solução: controle drástico no consumo de energia. Mais: controle drástico no consumo, seja qual for. E concluem, com o inevitável corolário: a melhor maneira de se consumir menos é que menos pessoas consumam. Portanto, o controle do consumo passa, inexoravelmente, pelo controle demográfico: aborto (incluindo a modalidade
pós nascimento e a eufemística antecipação terapêutica do parto, para os nascituros pouco aptos, seja lá o que isso signifique); controle compulsório de natalidade (união homo afetiva como um dos métodos de eficácia comprovada, nesta que é uma das causas mais caras à nova ordem global: a dissolução da ideia tradicional de família); incentivos entusiasmados à eutanásia; um tal de direito ao suicídio e outras amenidades. A utopia, como sempre, nobilíssima: é preciso preservar a natureza para as gerações futuras.

É preciso preservar a natureza para as gerações futuras que, naturalmente, não virão. É preciso preservar os recursos naturais para aquelas centenas de milhares de crianças abortadas anualmente no mundo todo. E é preciso guardar recursos ilimitados para os outros milhões de crianças que generosamente deixarão de nascer para que seus pobres pais possam planejar uma viagem a mais para um "paraíso sexual-democrata" qualquer, tudo isso sem, é claro, o estorvo dos avós cujas máquinas serão desligadas prontamente, tão logo comecem os primeiros espirros.

Exagero? Não, não exagero.
Le U Knight, um dos fundadores do amistoso Movimento da Extinção Humana Voluntária (VHEMT), conscienciosamente prega o homeopático desaparecimento da raça humana, para o bem do planeta e das capivaras. Acho muito bem. Eu começaria pelo dito cujo.

Eu começaria pelo dito cujo que não percebe a enormidade do que diz: o planeta seria melhor sem nós. Capivaras que me perdoem a sinceridade, mas a capacidade de se estabelecer juízos de valor, de sequer considerar se a natureza deve ser preservada ou não é uma capacidade especificamente humana. Sem a nossa maldita raça, a idéia mesma de que algo seja bom ou ruim para a natureza não faz rigorosamente sentido algum.


Nada mais razoável que os recursos naturais sejam explorados com prudência e responsabilidade, estou de acordo. Mas, alto lá: precisamente porque há humanos aqui. Para o bem e, vai-se fazer o quê, para o mal.

Gustavo Nogy
20 de junho de 2012
Do site Ad Hominem.

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