"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 15 de junho de 2012

PT E PMDB ENTERRAM COMISSÃO PARA QUE "CPI DO CACHOEIRA" NÃO VIRE "CPI DO CAVENDISH"

A farsa estava escrita na estrela

Podem anotar aí e denunciar nas redes sociais: PT e PMDB deram fim ontem à CPI ao se negar a convocar Fernando Cavendish, o dono da Delta. Agem assim porque estão com medo. Ele já havia mandado recado: se tentarem mandá-lo para a cadeia, conta tudo! E aí muitos milhões de toneladas de concreto e armação desabam na cabeça dos “éticos”.

*

Vocês sabem que este blog não se surpreendeu com a patuscada de ontem protagonizada por petistas e peemedebistas na dita CPI do Cachoeira. Quase todos os objetivos iniciais de Lula e sua turma se frustraram — há ainda a chance de inviabilizar uma nova candidatura de Marconi Perillo (PSDB) em Goiás. Já é alguma coisa. A devastação que Lula prometia na oposição, na imprensa, no Supremo e na Procuradoria-Geral da República não aconteceu.

Na comissão, Agnelo Queiroz se safa. Sem nenhum constrangimento, os petistas e o próprio governador do Distrito Federal dizem que a sua mansão está fora do alcance das investigações da CPI. Se Perillo se enrosca ao explicar como vendeu a sua casa, Agnelo não consegue explicar como comprou a sua. Também ele terá dificuldades imensas em 2014. Pesquisas indicam que até os esquartejados José Roberto Arruda e Joaquim Roriz venceriam um hipotético segundo turno contra ele se as eleições fossem hoje. A autonomia política foi a pior coisa que aconteceu na história do Distrito Federal!

A CPI acabou! Aos parlamentares de propósitos honestos que lá estão só resta denunciar a farsa a que PT e PMDB estão conduzindo a comissão — que já havia começado por maus propósitos, é bom deixar claro.
A senadora Kátia Abreu (PSD-TO) propôs, e vocês sabem que essa é também uma tese deste blog, que se crie uma subcomissão para apurar exclusivamente os crimes da Delta. Misturar a rede de tramoias da construtora com as firulas da contravenção de Cachoeira corresponde a produzir embromação.
Uma pergunta com resposta óbvia: o que o bicheiro tem a ver, por exemplo, com as atividades da empresa no Rio ou com a maioria dos contratos com o governo federal? Resposta: NADA! Está mais do que claro que ele era apenas o agente da empresa no Centro-Oeste, sem prejuízo de levar adiante o seu outro negócio: o jogo.

Os petistas que apostaram na CPI, liderados por Lula e Dirceu, não tinham os detalhes da parceria, no Centro-Oeste, entre Fernando Cavendish e Carlinhos Cachoeira. Maus conselheiros lhes sopraram aos ouvidos que a CPI tinha tudo para esmagar “os inimigos” e pronto! Quando a instalação da comissão já era irreversível, começou a ficar claro que aquele fio desencapado poderia produzir um curto-circuito.
Descoberto o valor da incógnita Delta, algumas vistosas carreiras políticas podem ser liquidadas. O primeiro cliente da empresa é o governo federal; o segundo é o governo do Rio; o terceiro, o de Pernambuco. E agora? Agora é fazer aquela cara inesquecível do relator Odair Cunha (PT-MG).
Ele tentando explicar por que Cavendish e Luiz Antonio Pagot não foram convocados é das cenas mais constrangedoras da política em muitos anos. Concorreu com Cândido Vaccarezza (PT-SP), que escandiu sílabas — como se a escansão, por si, fosse argumento: “Esta é a CPI do Ca-cho-ei-ra!!!”. Sem dúvida! Ocorre que a “CPI do Ca-cho-ei-ra” trouxe à luz um tsunami: “Ca-ven-dish”.

E não custa lembrar: Cavendish já mandou recados aos montes por intermédio dos seus prepostos. Até aceita perder a empresa, mas cadeia não! Se acontecer, aí bota a boca no trombone. E milhões de toneladas de concreto e armação desabarão sobre a cabeça de alguns graúdos da ética. Se Demóstenes Torres é hoje visto país afora, e por motivos mais do que justificáveis, como o falso moralista, como a “Carminha da política”, o risco de que a Avenida Brasil seja pequena para contar os corpos de eloquentes reputações é gigantesco.

Atenção, caros! O maior escândalo da história republicana é o mensalão. Em volume de dinheiro, é modesto perto do que o mundo Delta pode revelar. Agora, meus caros, virou questão de sobrevivência. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) repetiu ontem algo que eu já havia escrito neste blog: como pode o Parlamento brasileiro se negar a investigar uma empresa que o próprio governo federal considera inidônea, sendo ele, governo, o seu principal cliente e sendo essa empresa a que mais recursos recebeu do PAC?

Isso, por si, já é um escândalo! Em vez de Cavendish, convocaram Andressa, a mulher de Cachoeira? Pra quê? Para transformar a CPI num circo, no qual os brasileiros fazem o papel de palhaços?
A verdade nua e crua hoje é a seguinte: boa parte dos membros da CPI torce para que o STJ considere ilegais as escutas telefônicas da Operação Monte Carlo.
Se acontecer, por óbvio, a CPI não mais poderá fazer uso de algo que a própria Justiça considera ilegal. As informações derivadas daquela escutas não poderão nem mesmo constar do relatório do deputado Odair Cunha. Seria um bom pretexto para todo mundo mudar de assunto.
A gente não consegue saber se o PT é mais PT quando tenta investigar alguém ou quando tenta impedir que alguém seja investigado!
Reinaldo Azevedo
15 de junho de 2012

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