Uma “tropa de cheque” estaria trabalhando na comissão parlamentar de inquérito (CPI) mista que investiga Carlos Cachoeira para evitar a convocação do dono da Delta, Fernando Cavendish. Foi o que afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) durante a reunião desta quinta-feira (14), antes de a comissão derrubar os requerimentos que convocavam Cavendish e o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) Luiz Antônio Pagot. O deputado disse ainda que integrantes da CPI podem ter se encontrado recentemente com Cavendish em Paris.
Miro discursava contra o adiamento da vinda de Cavendish à CPI, proposto pelo relator, deputado Odair Cunha (PT-MG), e defendia um “caminho do bom senso”, aprovando a convocação sem uma data determinada, quando afirmou:
“Asseguro que não há possibilidade de se construir um discurso contra a convocação de Cavendish. Seria como justificar a adoração ao bezerro de ouro, seria como dar razão aos que já começam a fazer charges falando de uma tropa de cheque para defender o Cavendish.
E quem é o Cavendish? É o presidente da empresa que se deixou gravar dizendo que conseguiria obras por trinta milhões, que não estava interessado em comprar esses politiquinhos pequenos, não, porque ele comprava os grandes. Senadores? Seis milhões. Senadores? Seis milhões! Mas com trinta ele consegue qualquer obra”, disse o senador.
O deputado Candido Vaccarezza (PT-SP), que discursou a favor do adiamento de convocação, respondeu ao discurso de Miro e disse não aceitar acusações genéricas. “Se Vossa Excelência acha que há um deputado que é da bancada do cheque, vire para o deputado e diga: ‘é fulano’. Eu não sou da bancada do cheque, não sou”.
Viagem a Paris
Ainda durante a reunião, ao lamentar a derrota na aprovação da convocação de Fernando Cavendish, Miro Teixeira anunciou a apresentação de requerimento pedindo informações sobre um evento “que chegou a seu conhecimento”: uma delegação de parlamentares que viajou em missão oficial a um país africano, em data próxima à Semana Santa, e que teria voltado ao Brasil por Paris e almoçado na França com o ex-dono da Delta.
“Quero saber se, entre esses, algum participa dessa comissão. E, se for mais de um, se o voto foi decisivo para o resultado contrário à convocação de Cavendish”, anunciou. Miro Teixeira recebeu o apoio do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) e disse que a decisão da CPI foi motivada por orientação política. “Isso revela uma orientação política já denunciada no início dos trabalhos, de que o estímulo à instalação da CPI tinha por objetivo desviar o foco do mensalão de um lado e, de outro, alcançar apenas alguns eleitos. A essência dessa CPI é a Delta”, lembrou, em entrevista após a reunião.
Para o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), “a CPI entrou na UTI por deixar de ouvir Cavendish”, um dos principais envolvidos com a organização criminosa que distribuiu dinheiro público, organizou corrupção eleitoral nos estado e se envolveu com o crime organizado.
“Estão usando senadores e deputados para sepultar uma CPI, para dizer à opinião pública brasileira que nada vai ser apurado”,, disse Francischini. Segundo o deputado, muitos “homens de bem” integrantes da comissão, votaram contra por pressão do governo e, com isso, deixaram uma marca em suas biografias.
Já na visão do relator, Odair Cunha, rejeitar os requerimentos não trouxe desgaste nem ocorreu por interferência do Planalto. “Nós não evitamos convocação nenhuma, adiamos uma decisão sobre essa convocação. O que deve motivar [a CPI] é a análise dos documentos em posse da CPI”, afirmou.
Da Agência Senado:
15 de junho de 2012
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