'From the Ruins of Empire', de Pankaj Mishra, analisa sentimento antiocidental na Ásia, traçando curiosos paralelos com os dias atuais
Raras foram as vezes em que o prestígio do Ocidente esteve mais baixo aos olhos dos asiáticos. Guerras aparentemente intermináveis e os abusos concomitantes, a crise financeira e o mal-estar econômico deixaram a Europa e os Estados Unidos mais distantes de modelos a serem seguidos, e mais próximos de exemplos terríveis a serem evitados. Em resposta, as elites asiáticas estão recorrendo a suas próprias culturas e histórias, em busca inspiração intelectual.
Como Pankaj Mishra, um prolífico escritor indiano, mostra em From the Ruins of Empire: The Revolt Against the West and the Remaking of Asia (“Das Ruínas do Império: A Revolta Contra o Ocidente e a Reformulação da Ásia”) , um sutil, erudito e divertido apanhado de respostas intelectuais asiáticos para o Ocidente, o mesmo era verdade mais de um século atrás.
Ele define a Ásia em geral, como a região que faz fronteira com a Europa, no Mar Egeu, e com a África, no rio Nilo. Um século atrás, o que ele chama de “um processo irreversível de descolonização intelectual” estava em curso em toda esta imensa região.
Para Mishra, e muitos asiáticos, eventos centrais do século XX foram o “despertar intelectual e político da Ásia e sua emergência nas ruínas de ambos os impérios asiáticos e europeus”.
China e Índia se livraram dos predadores estrangeiros e tornaram-se potências mundiais. O Japão subiu, desceu e subiu novamente. É comum descrever o século atual como o século da Ásia.
Mishra conta a história deste ressurgimento através das vidas de um número de figuras fundamentais, que lidaram com o dilema de como replicar o poder do Ocidente, mantendo sua “essência” asiática.
Ele dá mais a atenção para duas delas, ambas pouco conhecidas no Ocidente. Uma delas, Jamal al-Din al-Afghani, era como a maioria deles “nem um ocidentalista irracional, nem um tradicionalista devoto”. Apesar de seu nome, e de uma tumba em Cabul restaurada às custas dos Estados Unidos, al-Afghani nasceu na Pérsia em 1838. Um ativista islâmico itinerante, ele também passou por Egito, Índia, Turquia e Rússia, protestando contra a fraqueza e as injustiças dos despotismos orientais e a imoralidade do imperialismo ocidental, tentando forjar um movimento pan-islâmico. Suas palavras chegaram aos ouvidos de sultões e xás.
O outro personagem principal é Liang Qichao, um líder intelectual chinês no crepúsculo da última dinastia imperial, a Qing, e os anos caóticos que sucederam sua queda em 1911. Imerso nas antigas tradições confucionistas e horrorizado com a fraqueza da nova república, ele chegou à conclusão de que “o povo chinês deve agora aceitar um regime autoritário, e não pode gozar de liberdade”.
Escrevendo em 1903, porém, ele viu isso como um fenômeno temporário, e teria se surpreendido ao encontrar os governantes da China hoje discutindo a mesma coisa.
Dois outros desenvolvimentos também teriam surpreendido estes homens. O primeiro é como desastrosamente algumas das sínteses de Ocidente e Oriente funcionaram: do comunismo milenar de Mao e Pol Pot, ao estilo do fundamentalismo islâmico da Al-Qaeda e à replicação japonesa das piores características do imperialismo ocidental.
A agressão posterior do Japão ajuda a explicar a outra surpresa: a de que em muitos aspectos, as relações entre os pensadores asiáticos parecem mais tênues agora do que há um século. Antes, homens, como Liang, ou Rabindranath Tagore, de Bengala, viajariam a Tóquio, e sonhariam com uma resposta pan-asiática ao Ocidente, inspirados pelo exemplo do Japão. A China é hoje o poder que vem da Ásia, mas não é um centro intelectual do pan-asianismo, seja na ortodoxia comunista ou nos esforços para reviver o confucionismo. E o Islã dos herdeiros ideológicos de al-Afghani tem feito pouco progresso em países não-muçulmanos.
Há um fenômeno contemporâneo asiático que, Mishra observa, pareceria muito menos surpreendente aos personagens do livro do que muitos dos ocidentais atuais: a profundidade do sentimento anti-ocidental. Milhões, escreve ele, “obtêm gratificação profunda com a perspectiva de humilhar os seus antigos lordes e senhores”. Essa perspectiva, no entanto, mascara o que Mishra admite ser um “imenso fracasso intelectual”, porque “nenhuma resposta convincente universalista existe hoje para as ideias ocidentais de política e economia”.
O estilo do Ocidente pode nem sempre funcionar. Mas a verdade alarmante, conclui Mishra, é que o Oriente está no caminho para cometer muitos dos mesmos erros que o Ocidente cometeu antes.
31 de julho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário