A natural expectativa em torno do julgamento do mensalão
reacende discussões acaloradas sobre as práticas políticas adotadas por
expoentes do Partido dos Trabalhadores com integrantes da base aliada e
empresários. Em um escândalo dessas proporções, torna-se inevitável a contenda
partidária, com troca de acusações entre aliados e adversários do PT.
Paralelamente, há um interessante debate jurídico sobre as teses defendidas
pela Procuradoria-Geral da República, em contraposição aos argumentos da defesa
dos réus. Como sói ocorrer em matérias polêmicas, caberá aos 11 ministros do
Supremo Tribunal Federal a honrosa e difícil missão de fundamentar as razões
para condenar ou absolver 38 cidadãos envolvidos no mais rumoroso episódio da
história recente da República.
A julgar pela preocupação do principal partido envolvido, parece
evidente que o resultado do julgamento terá consequências no projeto de poder
do PT. É difícil afirmar, contudo, o grau de impacto nas eleições municipais,
pautadas principalmente pelas necessidades paroquiais. Pode-se prever alguma
consequência para a eleição de 2014, especialmente se Lula levar adiante a
intenção de concorrer mais uma vez à Presidência. Mas é temerário e inútil,
nesse momento, fazer exercícios analíticos com tanta antecedência.
O que me parece relevante está inserido em uma única questão:
qual será o legado do mensalão? Do ponto de vista jurídico, em sete anos a
legislação pouco avançou para impedir a ocorrência dos crimes a serem
analisados pela Corte Suprema. Conquistamos a Ficha Limpa, mas o financiamento
de campanhas eleitorais ainda está vulnerável ao conhecido caixa 2; somente há
algumas semanas a presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei mais rigorosa
para lavagem de dinheiro. E quem conhece a rotina da Esplanada e do Congresso
Nacional sabe que ainda falta muito para se impedir a praga da corrupção %u2014
apenas para relembrar, há pouco mais de um ano a presidente Dilma afastou uma
porção de ministros após suspeitas de malfeitos na administração pública.
O mensalão será julgado com o rigor característico do Supremo.
Mas o veredicto terá alcance limitado na evolução da cultura política nacional.
Para além do entendimento do Judiciário, cabe ao Legislativo definir regras
moralizadoras e ao Executivo e ao Ministério Público agirem como fiscais
diligentes. Não se pode excluir, naturalmente, a consciência do brasileiro na
hora de escolher seus representantes. O pós-mensalão só atingirá a plenitude
quando o país conquistar uma política descontaminada da criminalidade.
O Estado de S. Paulo (SP) -31/07/2012
Carlos Alexandre
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