Artigos - Desarmamento
A existência de gun-free zones, já apelidadas de kill zones, tem sido extremamente questionada nos EUA. Já os desarmamentistas brasileiros, mesmo vivendo numa imensa kill zone, e sabendo que não contam com o apoio popular, persistem em apelar para a extinção do direito à legítima defesa com armas de fogo.
Nem bem cessaram os disparos do assassino do cinema de Aurora, no Colorado (EUA), e os ideólogos desarmamentistas brasileiros entraram em polvorosa, não perdendo tempo para requentar seu monotônico discurso sobre banimento de armas, seu maior controle ou monopólio pelo Estado.
O fato é, no mínimo, curioso, pois demonstra como, por aqui, a milhares de quilômetros daquele cinema, nossos autoproclamados especialistas adotam um discurso diametralmente oposto ao que surge nos Estados Unidos, palco da tragédia, sempre que fatalidades assim acontecem.
Enquanto por aqui se socorre ao simplismo do discurso desarmamentista, pondo a culpa de eventos assim na arma, como se ela pudesse matar sem ninguém para puxar o gatilho, por lá o que se questiona sempre que um assassino ataca vítimas inocentes é a proibição de se ir armado a determinados locais, as chamadas “gun-free zones”, ou, em tradução livre, “áreas livres de armas”.
Para os menos familiarizados com o tema, é fácil achar sentido na tese de que leis mais restritivas sobre armas possam contribuir para evitar ações insanas, como a que ora se repercute na mídia. Contudo, o que é necessário saber é que essas tragédias têm como característica comum, exatamente, o fato de terem por palco locais nos quais os frequentadores não podem adentrar armados. Cinemas, escolas e universidades são locais em que o cidadão não pode portar armas, sob pena de se submeter a rigorosas punições previstas em lei. Mas assassinos insanos não seguem a lei.
Ao se pesquisar tecnicamente os fatídicos massacres já registrados mundo afora, tem-se nítida a constatação de que o fato de terem ocorrido em locais onde armas são proibidas não é coincidência. Ao contrário, o que se vê no curso das investigações, sobretudo quando o assassino permanece vivo, é a escolha criteriosa desses locais para os ataques, pois ali não há chance de que uma vítima reaja e mate sumariamente o agressor, cessando sua investida.
Após a mais famosa chacina do gênero, ocorrida em Columbine – outra, até então, gun-free zone – a discussão mais acirrada que se travou no estado do Colorado foi sobre a liberação para que alunos e professores pudessem passar a frequentar o campus armados, pois toda a investigação demonstrou que, se isso fosse uma realidade, o ataque teria cessado na primeira ou, no máximo, segunda vítima atingida pelo assassino.
A questão ainda é debatida, sempre reavivada por ataques como o do cinema de Aurora, mas, do ponto de vista técnico, desprovido de contaminação ideológica, a questão já avançou e, hoje, se não professores e alunos, pelo menos seguranças armados já são presença constante no campus de Columbine, fato que era completamente proibido antes do ataque.
Aqui no Brasil, na chacina de Realengo, bastaria um professor ou funcionário da escola armado para que o assassino das doze crianças inocentes fosse parado. Assim que a primeira arma além das dele chegou ao local, o ataque cessou. Só que isso já foi muito tarde para as doze vidas perdidas.
Enquanto por aqui se perde tempo com um discurso utópico de banimento de armas, coisa que não funcionou em absolutamente lugar nenhum do mundo, nos EUA, que têm uma taxa de homicídios cinco vezes menor que a brasileira e um total de armas quase trezentas vezes maior, a discussão felizmente é técnica.
Hoje, as gun-free zones são extremamente questionadas e, basta uma mera pesquisa sobre o assunto para se identificar até o apelido que já receberam por lá: “kill zones”, ou, também em livre tradução, “zonas de assassinatos”.
Dizem que grandes tragédias sempre trazem grandes lições, e esta caminha para reduzir, nos EUA, as áreas consideradas livres de armas. Pena que por aqui os exemplos insistam em ser distorcidos e o país inteiro esteja se tornando uma “kill zone”, com cidadãos perdendo suas vidas diuturnamente sem nenhuma chance de defesa, tudo em nome de uma experiência ideológica que faz deles suas cobaias. Até quando?
27 de julho de 2012
Fabricio Rebelo, bacharel em direito e pesquisador em segurança pública, é coordenador da ONG Movimento Viva Brasil.
Publicado no blog Defesa Armada.
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