Às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal, os
principais réus do mensalão aguardam os desdobramentos jurídicos do escândalo
que estourou em junho de 2005 e já deixou sequelas políticas em alguns deles.
Apesar da onda de absolvições no plenário da Câmara, três parlamentares, dois
deles considerados caciques tiveram seus mandatos cassados: José Dirceu
(PT-SP), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Pedro Corrêa (PP-PE). Outros, como o
ex-presidente do PT José Genoino, passaram a ter uma atuação política bem mais
discreta da do passado.
Cotado como um dos principais nomes palra suceder Luiz Inácio
Lula da Silva em 2010 homem forte do governo nos três primeiros anos de mandato
do petista, Dirceu passou a atuar, após a cassação, nos bastidores do PT.
Tornou-se também consultor empresarial, aproveitando a expertise de seus tempos
de chefe da Casa Civil. Apesar de publicar um blog com suas opiniões políticas
e econômicas, começou a ser visto com ressalvas por integrantes de cargos
públicos, que optaram por encontrar-se com ele de maneira reservada para não
iserem vistos ao lado daquele que é considerado pelo Ministério Público Federal
como o “chefe da quadrilha do esquema do mensalão."
Roberto Jefferson, que a exemplo de Dirceu também teve seus
direitos políticos cassados, seguiu conduzindo as principais negociações
políticas do PTB. Mas perdeu diversas batalhas internas no partido, que optou
por permanecer ao lado do governo do PT — tanto com Lula quanto com Dilma.
Responsável pela célebre frase “Sai daí, Zé, para não tornar réu um homem
inocente”, Jefferson tem dito que seu destino está ligado ao do ex-chefe da
Casa Civil. E ameaçou: “Se o Dirceu quiser politizar o julgamento, quem se dará
mal é o Lula”.
A partir da denúncia feita em junho de 2005 pelo ex-deputado
federal Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que seu partido teria recebido uma
oferta em dinheiro por parte do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para votar a
favor do governo alguns projetos no Congresso, as acusações se tornaram rotina
e, a cada dia, novos nomes apareciam nos jornais. Duas CPMIs fo-ram criadas
para apurar as denúncias e três parlamentares perderam as vagas na Câmara
Um ano depois de deflagrado o esquema, a denúncia chegou ao
Supremo Tribunal Federal (STF), e cresceu a expectativa de que o caso teria
fim. No entanto, na maior casa de Justiça do país, os adiamentos se tomariam
frequentes e o processo judicial passou a se arrastar.
Na semana que vem, o esquema que apareceu graças a uma gravação
de um empresário envolvido em negociações fraudulentas chega finalmente ao
plenário do Supremo e o fim da novela ficará nas mãos dos 11 ministros.
Presidente do PT e responsável por autorizar os empréstimos
feitos pelo partido perante os bancos Rural e BMG—intermediado pelo empresário
Marcos Valério—José Genoino mergulhou em depressão após o escândalo. Amigos
relataram ao Correio a dificuldade que o antes falante parlamentar tinha de
sair de casa. Elegeu-se deputado federal em 2006, mas não conseguiu reeleger-se
em 2010. Nomeado secretário especial do Ministério da Defesa, trilha um caminho
mais discreto e apagado.
Em silêncio
Tesoureiro do PT e apontado como um dos prováveis condenados no
julgamento do Supremo Tribunal Federal, Delúbio Soares foi expulso do PT e
manteve o silêncio sepulcral sobre o assunto. Ameaçou filiar-se ao PMDB, mas
Lula acalmou-o e ele manteve-se sem ligação partidária. Em 2011, foi refiliado
ao PT, sendo elogiado por sua disciplina político-partidária de manter-se
quieto sobre o mensalão. Cogitou candidatar-se a vereador, porém, uma vez mais,
Lula mandou-o ficar quieto, evitando holofotes em pleno ano eleitoral.
Correio
Braziliense (DF)
Da Redação
27 de julho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário