Hoje, o discurso principal do PT é o social, não mais o ético ou o
marxista; 75% dos filiações são recentes. Por isso, o partido não seria afetado
pela condenação
Historicamente, o PT acumulou três camadas de discurso: ideológica,
ética e social.
Embora fossem inseparáveis, elas tinham temporalidades diversas e
provinham, respectivamente:
- dos aportes marxistas que o PT recebeu na sua fundação;
- de uma militância que transitava para a ordem, mas ainda se via fora
dela;
- e da experiência das comunidades eclesiais de base.
Já em 2002, o PT acreditou que era preciso ocultar o discurso
socialista para eleger Lula.
Foi em 2005, porém, que o partido viveu a maior crise de sua história.
Naquele ano, o escândalo do mensalão derrubou o discurso sobre a "ética na
política" e abateu o seu núcleo dirigente.
A crise foi uma ruptura na sua história. Pela primeira vez na
história, o PT assumia o papel de vilão no teatro das Comissões Parlamentares de
Inquérito.
Com a exceção de vozes isoladas no partido, como José Dirceu, que se
recusou a renunciar ao mandato de deputado para evitar a sua cassação, a maioria
das figuras públicas petistas se escondeu para salvar a própria pele.
E quando todos vaticinavam o fim de Lula e do PT, eis que eles se
erguem dos escombros com aquilo que tinha sobrado do patrimônio histórico
petista.
Era o discurso social, que assumia o primeiro plano.
Isso fez a oposição acreditar que o povo aceitava a corrupção em troca
de recursos do Estado. Não percebia que, apesar de tudo, as classes desamparadas
apoiariam o PT, em nome dos programas governamentais que interessavam a elas.
Obviamente não foi assim que os dirigentes petistas pensaram. Uns
saíram, outros simplesmente voltaram à rotina. Mas o PT mudou.
Aquela agremiação de forte marca social incorporou outra base. Mais de
três quartos dos atuais filiados ingressaram durante os dois mandatos de Lula.
Talvez atraídos pelas oportunidades de carreira que um partido de governo
oferece, mas também pela identificação de classe.
Não é que os novos filiados sejam necessariamente avessos aos
conteúdos socialistas, mas a forma discursiva que encantava a velha militância
de classe média parece ser de outro tempo.
O julgamento do STF não mudará este PT. O respaldo que ele tem não
depende do que se lê nos autos do processo. É que o julgamento político já foi
feito. Se os réus vierem a ser condenados, nada de novo se acrescentará à imagem
do partido. Se forem absolvidos, quem lhes devolverá os anos de ostracismo?
Folha de S. Paulo (SP)
LINCOLN SECCO
27 de julho de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário