O Tribunal de Contas do Rio de Janeiro não aprovou
as contas de 499 cidadãos que ocuparam cargos públicos em seus municípios -
quase todos ex-prefeitos e ex-presidentes de Câmaras de Vereadores - no estado.
E o presidente do Tribunal Regional Eleitoral, Luiz Zveiter, anunciou o óbvio:
nenhum deles poderá ser candidato nas eleições de outubro. Todos estarão
inelegíveis por oito anos.
A existência desse prazo é curiosa: parece indicar
a confiança de que, nos oito anos, políticos desonestos ou incompetentes em
alto grau aprenderão a governar ou abandonarão o feio costume de meter a mão
nas verbas públicas. Com uma pitada de cinismo, é bom não esquecer que a
inelegibilidade sempre castiga - mas raramente conserta.
Nas eleições deste ano, 21 mil cidadãos do Estado
do Rio são candidatos a mandatos diversos. Esse número sugere uma de duas
conclusões: ou existe por aqui extraordinário índice de devoção aos interesses
da coletividade, ou os cargos a serem preenchidos pelo voto popular são, por
assim dizer, apetitosos.
O eleitor saberá qual das duas explicações é
verdadeira. No caso da primeira, estamos todos de parabéns; na outra hipótese
restará aos cidadãos a possibilidade - melhor dizendo, o dever - de tomar nota
dos nomes daqueles que se dedicam a usar o poder em benefício próprio. É certo
que existem políticos dos dois tipos. Aqui, como em qualquer outro país.
É difícil saber se os 499 que caíram na malha fina
do Tribunal de Contas representam uma boa notícia ou uma situação de crise
moral na vida pública: falta-nos a comparação com anos anteriores. Não parece
improvável que a resposta correta às nossas preocupações seja a de que tudo
continua com sempre foi: nem aumento de safadeza, nem o resultado animador de
uma operação de enérgica limpeza nos quadros partidários.
Afinal, a turma parece ser a de sempre, numa
mistura de cidadãos honestos e dedicados ao bem comum com aqueles que enxergam
na carreira pública aquilo que uma gíria antiga batizou de "boca
rica". Durante a campanha eleitoral, é difícil saber. Depois da posse dos
eleitos, logo se saberá.
O número dos
castigados pelo Tribunal de Contas não é animador. Como também não é excesso de
pessimismo imaginarmos que os oito anos de inelegibilidade transformarão em
varões de Plutarco, como se dizia antigamente, os 499 agora - mas não
submetidos a qualquer pena de cadeia ou multa, o que não deixa de ser curioso.
Afinal de contas, ser apanhado numa malha fina deveria ser apenas a prova de
mau comportamento, primeiro passo no caminho para uma unica punição exemplar.
Luiz Garcia
O Globo, RJ
27 de julho de 2012
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