"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 9 de julho de 2012

IRÃ SE LANÇA À CONQUISTA DA AMÉRICA LATINA


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Mahmoud Ahmadinejad não tem poupado esforços para obter apoio da América latina (Reprodução/Internet)

Governo de Mahmoud Ahmadinejad busca apoio na região para superar o isolamento internacional

Há pelo menos seis meses, o Irã está empreendendo uma ofensiva comercial, militar e diplomática sobre a América Latina. Teerã não tem poupado esforços para conseguir o apoio da região para superar o isolamento internacional por conta de seu programa nuclear. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, aproveitou sua participação na Rio +20 para fazer uma mini-turnê pela América do Sul. Foi a segunda em seis meses. Em janeiro, Ahmadinejad visitou a Venezuela, Equador, Cuba e Nicarágua. Em maio, foi a vez do vice-presidente Ali Saeidlo fazer o mesmo roteiro e ainda incluir a Bolívia.

No fim de maio, os habitantes de Quito, a capital do Equador, foram surpreendidos pelo aparecimento de cartazes chamando para um ato de nenhuma tradição local: o aniversário da morte do aiatolá Khomeini. Numa solenidade realizada no país, o líder iraniano foi equiparado a Simón Bolívar. O evento foi captado pela “Hispan TV”, o canal a cabo do regime iraniano, inaugurado em dezembro, que transmite notícias 24 horas por dia em espanhol e cujo principal alvo é o público latino-americano.

Na Bolívia, a presença do Irã é ainda mais emblemática: a embaixada iraniana tem 145 diplomatas, segundo informou o jornal espanhol “El País”. Fontes diplomáticas ocidentais, no entanto, estimam que o número seja ainda maior.

Para o analista do Centro de Estratégias, Inteligência e Relações Internacionais (Ceiri), doutor Marcelo Suano, os latino-americanos, especialmente os governos esquerdistas, têm condições de surgir como número para engrossar o apoio que os iranianos necessitam ter dos atores que realmente têm capacidade de lhes dar suporte: China e Rússia.

“Os latino-americanos podem ser este grupo a fazer número, graças ao comportamento antiamericano dos bolivarianos que se espalhou, em maior ou menor grau, entre os governos de esquerda e centro-esquerda na região. Assim, esses latino-americanos surgem para os iranianos como ‘inimigos do meu inimigo’, logo, apoiadores das suas reivindicações e confrontações”.

Suano ressalta que, diante de possíveis sanções contra o Irã, esses aliados podem se tornar fornecedores de matérias-primas e produtos essenciais para o país, caso seja necessário.

O especialista lembra que os iranianos já têm acordos fechados com os principais bolivarianos (Venezuela, Bolívia, Equador) para fornecer matérias-primas. Há cerca de dois anos, por exemplo, houve aproximações para assinar um tratado visando à exploração e ao fornecimento de urânio da Bolívia ao Irã.

“Os latinos podem ser significativos para a estratégia de sobrevivência do governo iraniano, para a continuidade de seu programa nuclear e para a manutenção da política externa de enfrentamento. É possível dizer que Teerã não vê os latinos como principal suporte, mas poderá vir a percebê-los como cartas importantes do baralho, se não ocorrer de chegar a vê-los como as últimas restantes”.

Mas Teerã não está encontrando facilidades em todos os países nos quais tem buscado uma ofensiva diplomática. A visita de Ahmadinejad ao Brasil, por exemplo, causou polêmica: alguns deputados pediram que o governo brasileiro impedisse a entrada do líder, e a presidente Dilma Rousseff não aceitou se encontrar reservadamente com ele, apesar da insistência do Irã.

Desde que tomou posse, Dilma tem buscado romper com a postura de seu antecessor, o presidente Lula, no que tange ao relacionamento com o Irã. Para Suano, a postura mais técnica, menos ideológica e menos impositiva na política externa do atual governo indica que ele não vá fazer qualquer interferência com relação às posturas que estão sendo adotadas pelos seus vizinhos, permitindo a manutenção dos mesmos posicionamentos na região: “Isso até que os governos bolivarianos percam sua força, credibilidade e sejam substituídos”, conclui o especialista.

Mas, diante da ofensiva do Irã, os Estados Unidos também procurariam ampliar sua presença na região? Para Suano, como qualquer potência global, os EUA procuram defender seus interesses em todos os cantos do globo:

“Ao longo dos últimos 12 anos, os EUA ficaram menos atentos à área e deslocaram os seus interesses para outras áreas do globo que consideraram prioritárias, deixando a América Latina com um espaço de ação unilateral sem precedentes. Num segundo momento, emergiram governos declaradamente antiamericanos, que usavam desse argumento para solidificarem uma base de apoio. Depois, num terceiro tempo, veio à crise econômica norte-americana, que impediu quaisquer ações”.

O especialista ressalta, no entanto, que o ponto central é a forma como os Estados Unidos vão se posicionar no que tange a qualquer ação do governo do Irã na América Latina. “Certamente, vão usar dos mecanismos internacionais disponíveis, como sanções, já que os países da região devem seguir as determinações do Conselho de Segurança da ONU. Mas, é claro que há a possibilidade de eles desrespeitarem as obrigatoriedades da ONU e violarem os tratados assinados”.

Caro leitor,
Você acredita que países da América da Latina possam se tornar aliados do Irã?

Opinião&Notícia
Fernanda Dias
09 de julho de 2012

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