Vida de Roger Casement, que defendeu africanos, indígenas sul-americanos e separatistas irlandeses é tema de 'O Sonho do Celta', novo livro do escritor peruano Mario Vargas Llosa
Em 1884, Roger Casement, um jovem da Irlanda do Norte, juntou-se a uma expedição até o rio Congo liderada por Henry Morton Stanley, acreditando que o comércio, o cristianismo e o colonialismo ajudariam a emancipar o continente negro.
Quando deixou a África, 20 anos depois, Casement era a figura principal de uma campanha internacional para denunciar os abusos cometidos pelos colonizadores belgas no Congo. Como cônsul britânico, ele publicou um relatório que detalha como os africanos foram espancados e mutilados para que fornecessem borracha para exportação para a Europa.
Quando a notícia de que o boom da borracha havia gerado um reino semelhante de terror contra a população indígena em Putumayo, na Amazônia peruana, o secretário britânico de Relações Exteriores enviou Casement para investigar o assunto, afirmando: “Você é um especialista em atrocidades. Não pode dizer não”. Suas descobertas levaram ao colapso da Companhia Amazônica Peruana, a empresa londrina responsável pela extração. Casement foi condecorado, e o Times o saudou como “um grande humanitário”.
Um homem apaixonado de caráter complexo, Casement é um protagonista perfeito para Mario Vargas Llosa, escritor peruano que ganhou o prêmio Nobel de literatura em 2010. O Sonho do Celta é uma biografia ficcional meticulosamente pesquisada e um inteligente romance psicológico.
A fama de Casement rapidamente se transformou em notoriedade. Apenas alguns anos depois de seu sucesso elogiado no Peru, ele foi enforcado na prisão Pentonville de Londres como traidor. Depois de ter transferido sua sede de justiça à luta pela independência irlandesa, ele buscou apoio militar alemão para a causa durante a primeira guerra mundial. Casement foi capturado em 1916 em uma praia irlandesa durante uma tentativa frustrada de transportar 20 mil rifles alemães. Seus captores britânicos tentaram manchar ainda mais o seu nome, revelando diários nos quais ele detalhava encontros homossexuais com jovens de vários continentes.
As passagens mais fortes do livro são aquelas em que o autor entrelaça habilmente cenas na prisão de Pentonville com detalhes da vida anterior de Casement, traçando a evolução de sua consciência. O Sonho do Celta é um conto moral. É sobre a escolha entre a negação ou a denúncia frente ao mal, e a linha tênue entre ativismo e fanatismo. Isso faz com que uma velha história se transforme numa narrativa surpreendentemente contemporânea.
09 de julho de 2012
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