O fim-de-semana foi animado pela revanche entre os brutalhões Anderson Silva e Chael Sonnen, lutadores de um esporte cujo principal objetivo é produzir lesões, ferimentos e literalmente levar a lona o adversário.
Assim é o UFC, espetáculo de selvageria que foi enlatado pela televisão até se transformar em febre em todo o mundo.
O esporte é de uma brutalidade impressionante. Os gladiadores são colocados no centro de uma arena octogonal onde se espancam mutuamente até que um deles seja subjugado.
Todo mundo já viu alguma vez e sabe como esse "esporte" transformou a violência em estado em matéria-prima para o espetáculo.
O circo romano do UFC não deve nada às lutas medievais. Apenas um elemento -- a superação pela morte -- ainda está ausente da cena.
Ainda.
A selvageria se transformou em indústria e rapidamente caiu no gosto dos brasileiros.
Não deixa de constituir um paradoxo que um País que não permite brigas de galos (pobre Duda Mendonça!) transforme o massacre das lutas de UFC num evento popular, com agenda prescrita nos jornais e transmissão ao vivo pela TV.
O resultado é visível. Na periferia das grandes cidades, jovens sem perspectiva já começam a imitar o visual dos lutadores, tatuam os nomes de seus heróis pelo corpo e se preparam para seguir o caminho de aberto pelos Anderson Silva da vida.
Na porta das escolas, dento das salas-de-aula, o vale-tudo já começou. São cada vez mais violentas as lutas entre colegas. Meninas assumem o papel de brutamontes em confrontos sangrentos com rivas.
E por qualquer motivo: a disputa por um namorado, uma diferença de opinião, o posicionamento antagônico em relação a grupos que se confrontam como adversários.
Com isso, o fenômeno das gangues ganha, na banalização da violência, um poderoso catalizador. Brasília que o diga.
Não entendo no que a massificação desse esporte, que faz o boxe assumir as feições de um encontro de comadres, pode ajudar a aprimorar e humanizar a sociedade.
Não entendo por que galos de briga não podem ser colocados em uma rinha enquanto dois selvagens humanos podem se agredir até a exaustão e a humilhação máximas diante de uma platéia de milhões.
Certo mesmo é que tem muita gente ganhando dinheiro com cada gota de sangue que cai sobre o piso do octógono. Talvez seja o único lucro possível para uma sociedade que aos poucos vai reaprendendo que a falta de respeito e humanidade podem, sim, constituir um ótimo negócio.
09 de julho de 2012
Fábio Pannunzio
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