"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 7 de agosto de 2012

HISTÓRIAS DO MENSALÃO


O culpado pelo mensalão é o Lula. Calma, tento explicar. José Dirceu, chefe da Casa Civil, era o encarregado para arregimentar partidos e lideranças para formar a base de apoio ao iniciante governo Lula.
A base se forma dando cargos, ministérios e estatais. O PMDB estava exigindo seu quinhão de acordo com seu tamanho. Num determinado momento, o presidente Lula manda Dirceu interromper as negociações com o esfomeado PMDB.
A base de apoio, não somente por causa do PMDB, não ficou definida e do tamanho que se imagina que deveria ser.

O governo precisava aprovar medidas urgentes e necessárias para seu início de trabalho. Não tendo uma base coesa, decidiram pagar algo como 30 mil reais por mês para ter apoio de parlamentares em votação de matérias no Congresso. Depois de toda celeuma em torno do mensalão é que o Lula recuou e criou aquela enorme base de apoio. Se tivesse paciência e aceitado o trabalho anterior do

Dirceu não chegaria onde chegou.

O maior impacto sobre o mensalão naquele momento foi porque se dava com o PT. Era o partido que atacara a corrupção por anos. Chegou ao governo com a aura de defensor da ética com a coisa pública. Daqui a pouco se via que não era assim. Se fossem outros partidos mais curtidos nos meandros não republicanos o impacto seria menor.

A coisa se complicou ainda mais para o PT quando, por sugestão do Ministro da Justiça, Márcio Tomas Bastos, da Embaixada do Brasil em Paris, o presidente Lula deu entrevista sobre o assunto e falou que o dinheiro era de caixa dois. Ou seja, o PT praticara ato que todos os partidos praticavam.

Virou farinha do mesmo saco.

Outro impacto grande. Outro dado daquele momento nacional foi a tática equivocada da oposição sobre o assunto. Houve uma famosa reunião em S. Paulo no apartamento de FHC com líderes maiores do PSDB e do PFL. A maioria ali queria jogar povo na rua e outros atos para perturbar a vida política do governo Lula e do PT. FHC convenceu o grupo de que não era necessário e que o Lula estava politicamente atingido e iria gotejar sangue até a próxima eleição.

O Lula, na indecisão da oposição, disparou a viajar pelo país, principalmente para o Nordeste. Asua assessoria de imprensa fez competente trabalho de divulgação de suas andanças e dos apoios que foram aos poucos crescendo. Na próxima eleição, diferente do que supusera FHC, o Lula bateu o partido do expresidente. O mais preocupado com o desfecho do julgamento do mensalão é o Lula. Fez bom governo e é talvez o presidente mais popular que o país teve. O receio é que os livros de história digam que em seu governo houve o maior escândalo de corrupção da história do país. Mancharia qualquer biografia.

A Gazeta (MT) - 07/08/2012
ALFREDO DA MOTA MENEZES

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