"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 7 de agosto de 2012

MÚSICA, MAESTRO! MAS, QUAL MÚSICA?

São tantas as más notícias do mundo contemporâneo, que ‒ dirá alguém ‒ a solução é recorrer à música.
Sim, sem dúvida! desde que não se caia na música atual, caso contrário a situação pode piorar. As composições de hoje têm, salvo exceções, os defeitos de nossa época.
E isto vale também para as músicas modernas de quarenta anos atrás, com o mesmo espírito das atuais. Vejamos as conclusões de um grupo de psiquiatras alemães:
Observando o comportamento de músicos, concluíram:

1- Os músicos dedicados à música clássica ou romântica, têm uma grande estabilidade;

2 – O que se dedicam à música moderna sofrem de dor de cabeça, insônia, nervosismo, irritabilidade”.[1]

Perdoe o leitor ouvirmos de início cientistas em matéria musical. Não é o campo específico deles, mas é uma contribuição válida, porque exprime os efeitos da música em nosso corpo, os quais são mais mensuráveis. Dizem cientistas espanhóis, bem recentemente:
Um estudo publicado pela revista científica Nature concluiu que, durante os últimos 50 anos, a música ocidental subiu de volume e mudou somente no sentido de tornar-se mais homogênea.[2]

Que significará nesta frase a ambígua palavra “homogênea”? Que vem a ser uma música “homogênea”? Com mais unidade? ou mais monótona, sem originalidade, sem graça? Ao leitor, a resposta.
Eles prosseguem:

“Por causa da manipulação tecnológica, o piano, por exemplo, teria perdido um pouco de sua “pianidade“, a sonoridade específica que o torna mais reconhecível dentro da música”.
Uma expressão exata: o piano perde um pouco de sua “pianidade”!

Em termos de orquestra, no violino desaparece algo de sua “violinidade”, no trombone algo de sua “trombonidade”, na flauta algo de sua “flautice”, etc. Em resumo, a orquestra inteira perde algo de sua “orquestralidade”. Ou seja, cada instrumento e o conjunto ficam diminuídos em sua personalidade, naquilo que lhes é próprio.

Ora, uma das características do igualitarismo é, precisamente, abafar as personalidades, para que se fique mais perto do igualitarismo. Vai tudo tendendo para uma espécie de matéria plástica musical.

A propósito, diz Dr. Plinio:
O característico é um sinal distintivo da variedade autêntica; é nele que a verdadeira variedade se realiza. [...] A civilização moderna, pelo contrário, odeia a variedade e idolatra uma pseudounidade. Ela detesta tudo o que é típico e, em geral, ama o que é promíscuo e confuso. Abolindo a variedade e colocando em seu lugar uma uniformidade sem o menor sentido, a Revolução destrói a semelhança da criatura com o seu Criador”.[3]
Voltemos ao anterior: “O Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha examinou 464.411 músicas armazenadas na Universidade de Columbia (USA), que foram gravadas entre 1955 e 2010. E os resultados não foram muito lisonjeiros para os músicos modernos”.

Em média, uma canção atual utiliza as mesmas notas e acordes que uma dos anos 60, apesar de as transições entre acordes serem um pouco mais simples“, explicou à BBC o professor Álvaro del Corral, um dos autores do estudo.

Segundo Del Corral, “os timbres atuais são mais reduzidos, ainda que diferentes”, o que quer dizer que o leque de instrumentos utilizados é muito menor que no passado. Além disso, “o estudo diz que as melodias das diferentes músicas que tocam hoje na rádio também se parecem mais entre si do que no passado”.

Outra nova característica: o alto volume. Ou seja, V. não conseguirá escapar facilmente destas músicas, por causa do volume alto…
Para Álvaro del Corral, a explicação para as diferenças é o fato de que “a música popular é mais uma indústria ou um negócio do que uma arte”.[4]

Termino com Victor Hugo. O famoso literato dizia que a música é um ruído que pensa.[5] Se conhecesse a música moderna, talvez ele dissesse: essa música é um ruído que não pensa! em nada absolutamente!
Ou se pensa, no que será?

07 de agosto de 2012
Leo Daniele


[1] Noticia da Radio Holandesa, 11-10-73.
[2] “Cientistas espanhóis comprovam que música atual é mais ‘chata’‒ Estudo diz que canções modernas são versões ’simplificadas’ e mais altas de canções do passado”. O Estado de São Paulo, 3-8-2012.
[3] 1º-2-65.
[4] BBC Brasil in OESP, 3-8-12.
[5] Fragments.

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